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Lula intervém em crise com MT

OESP, Vida, p. A14
24 de Mai de 2008

Lula intervém em crise com MT
Presidente deve se reunir com o governador Blairo Maggi (PR) e o ministro Carlos Minc na próxima semana

João Domingos

O presidente Luiz Inácio Lula da Silva decidiu intervir no bate-boca entre o futuro ministro do Meio Ambiente, Carlos Minc, e o governador de Mato Grosso, Blairo Maggi (PR). Em reunião que pretende fazer com os dois, no máximo até terça-feira, dia em que Minc tomará posse, Lula vai pedir que eles suspendam as agressões mútuas. Um auxiliar do presidente disse ao Estado que, a cada desaforo de um para o outro, Lula reclama: "Será que esses dois não percebem que isso prejudica a imagem do País lá fora, justamente num momento tão bom para os nossos negócios?"

Foi Minc quem puxou a briga. Logo que aceitou o chamado para suceder a senadora Marina Silva, na semana passada, atacou Maggi, um importante aliado de Lula, defensor intransigente do agronegócio. De Paris, onde estava e de onde concedeu entrevistas, Minc elegeu Maggi como "inimigo da floresta" e insinuou que o governador só não planta soja nos Andes porque não pode.

Maggi reagiu dizendo não ter terras nos Andes e que é folclore a informação, circulante nos meios ambientais, de que é o maior plantador individual de soja do mundo. Minc rebateu insinuando que Maggi era um piromaníaco. E, na quarta-feira, anunciou que o desmatamento aumentou 60% em Mato Grosso no mês de abril, antecipando anúncio oficial que será feito na segunda-feira. Maggi, é claro, contestou os dados.

Se Minc elegeu Maggi como o inimigo do verde, o governador fez o mesmo em relação ao Instituto Nacional de Pesquisas Especiais (INPE), responsável pelos levantamentos sobre desmatamento, como o antecipado por Minc.

Desde janeiro, quando a então ministra Marina Silva anunciou que dados do Sistema de Detecção em Tempo Real (Deter), do Inpe, mostravam aumento do desmatamento em proporções alarmantes em Mato Grosso, Blairo Maggi iniciou o contra-ataque aos dados coletados por imagens de satélite. A cada divulgação, ele costuma acionar a Secretaria Estadual do Meio Ambiente (Sema) para checar in loco se é verdadeira. O Inpe reafirma seus dados, alegando que há diferenças entre as técnicas utilizadas por ambos.

Em nota divulgada na quinta-feira, o governo de Mato Grosso atacou novamente o Inpe, acusando o sistema Deter de emitir alertas de desmatamento para qualquer modificação da floresta. Assim, conforme a nota, antigas áreas já desmatadas, leitos de rios , ou até afloramentos rochosos são identificados como desmatamento.

Na mesma nota, Maggi informou que já fez um comunicado ao Inpe, para que o órgão corrija tais "distorções". O governo mato-grossense lembrou ainda que, em março, o próprio Inpe admitiu incorreção nos dados do último trimestre de 2007.

Na segunda-feira, o presidente recebeu Carlos Minc. Como não conseguiu arrancar nenhuma das exigências que fizera - uso do Exército para proteger as reservas ambientais, liberação de R$ 1 bilhão de recursos contingenciados e afastamento do ministro de Assuntos Estratégicos, Mangabeira Unger, do comando do Plano Amazônia Sustentável (PAS) - Minc contentou-se com a possibilidade de constituir uma Guarda Nacional Florestal que poderia requisitar a ajuda das polícias militares. Foi a vez de Maggi reagir. "Não conte com a nossa polícia. Não tenho soldados para proteger a floresta."

OESP, 24/05/2008, Vida, p. A14

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