Lula: índios não põem em risco soberania do país

Lula: índios não põem em risco soberania do país
Em resposta ao general Heleno, presidente afirma ainda que indígenas defendiam o Brasil quando não havia Exército

Um dia após o ministro da Justiça, Tarso Genro, anunciar que o governo vai ampliar a presença militar nas fronteiras, incluindo terras indígenas, o presidente Lula criticou publicamente, pela primeira vez e sem citar nomes, o general Augusto Heleno, comandante militar da Amazônia. Mês passado, o general disse que a soberania do Estado brasileiro estará ameaçada caso a demarcação contínua de terras indígenas na reserva Raposa Serra do Sol, em Roraima, seja levada adiante. Lula respondeu:
- Quem, um dia, ousou dizer que os nossos índios faziam o país s correr o risco de perder a sua soberania porque eles estão em lugares, muitos deles, fronteiriços com o Brasil?
O presidente lembrou que índios integram o Exército.
- É só ir a São Gabriel da Cachoeira que a gente vai perceber que grande parte dos militares do Exército brasileiro que estão lá, vestidos com a roupa verde e amarela das nossas Forças Armadas, é de índios. Quando não tinha Exército, quantas vezes foram os índios que defenderam as nossas fronteiras?
Governador de Roraima não compareceu à solenidade
As declarações do presidente aconteceram durante cerimônia de lançamento do Plano Amazônia Sustentável (PAS), no Palácio do Planalto, do qual participaram líderes indígenas e de ONGs, além de governadores de oito estados da Amazônia Legal. A ausência mais sentida foi a de José de Anchieta Júnior, de Roraima. Lula anunciou a ausência de Anchieta, um dos principais críticos à demarcação contínua.
- Não está presente o companheiro governador do estado de Roraima, por problemas que vocês estão acompanhando pela imprensa. Deve ser por isso.
Lula negou que a PF e a Força Nacional de Segurança tenham falhado em suas ações, já que os pistoleiros que atacaram os indígenas estavam armados.
- O governo tomou todas as providências que tinha de tomar em relação a Roraima.
Nós fizemos um pacote, temos propostas, mandamos agora uma medida provisória resolvendo o problema das terras de Roraima (em referência a uma MP sobre terras da União no estado).
O presidente disse ainda que o governo vai aguardar a decisão do Supremo Tribunal Federal (STF) sobre Raposa Serra do Sol.
- Na medida que a PF ia cumprir a decisão do governo para desalojar os arrozeiros e veio o processo para a Suprema Corte, nós agora temos a obrigação de manter a paz e a harmonia lá dentro. A PF vai ficar lá, a Força Nacional vai ficar lá, mas iremos esperar que a Suprema Corte se manifeste.
O resultado da Suprema Corte vale para governo, índios, o branco, o governador, deputados, todos nós.

O Globo, 09/05/2008, O País, p. 13