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Lula homologa mais três áreas

Folha de Boa Vista-Boa Vista-RR
Autor: MARILENA FREITAS
25 de Jun de 2003

Índios e representantes de entidades governamentais e não-governamentais comemorando a homologação

O presidente da República, Luiz Inácio Lula da Silva (PT), homologou anteontem mais três terras indígenas em Roraima. Dessa vez foram as reservas Jacamim, Wai-wai e Muriru, publicadas ontem no Diário Oficial da União (DOU). Agora falta a mais polêmica entre índios e não-índios, a Raposa/Serra do Sol, com 1,6 milhão de hectares, localizada ao nordeste do Estado.

A expectativa dos índios favoráveis à demarcação em área contínua é que Raposa/Serra do Sol seja homologada até a segunda quinzena do mês de julho. No Conselho Indígena de Roraima (CIR), a notícia foi recebida com alegria pelos índios e não-índios que participavam de uma reunião.

De imediato, eles providenciaram a compra de frios e refrigerantes para comemorar o que consideram uma vitória. As três áreas homologadas compreendem um total de 600.020 hectares. A maloca Muriru, onde vivem índios Wapixana, ocupa parte dos municípios de Bonfim e Normandia. A área compreende 405 mil hectares.

A demarcação ocorreu no mês de abril de 1999. Já a área indígena Jacamim, também da etnia Wapixana, fica no município do Cantá e tem 189.500 hectares. Lá vivem 952 índios divididos entre quatro malocas: Jacamim, Wapum, Marupá, e Água Boa.
A área foi demarcada em junho de 2000. Segundo o tuxaua Bazílio Cipriano de Souza, os índios do Jacamim vivem da agricultura, pesca, criação de gado e outros animais domésticos. Produzem também banana que é vendida para atravessadores que trazem para abastecer a cidade.

"Temos cerca de 15 mil pés de banana e cada cacho é vendido, em média, por R$ 3,00", disse, ao adiantar que os índios daquela maloca iriam comemorar a vitória no próximo dia 29, com uma grande festa. A meta, segundo o tuxaua, é aumentar a produção de banana, para os próprios índios escoarem a produção.

A terra indígena Wai-wai tem 189.500 hectares e foi reconhecida pela primeira vez como indígena em 1987, quando foi construída a estrada BR-210. Naquela ocasião viviam 2.020 índios. Hoje, na área de Roraima tem 551 wai-wai.

Nessa época, segundo contou o líder indígena Valdeci Noro Wai-wai, 39 anos, a área era limítrofe com a reserva Waimiri-atroari. "Com a construção da estrada, os índios foram cada vez mais recuando dos antigos locais que habitavam", contou.
Em 2002, o Ministério da Justiça demarcou a área e indenizou, conforme o índio, 42 posseiros que ocupavam o local. Hoje, na maloca no Anauá vivem 154 índios.

Indagado a razão dessa pequena quantidade para uma maloca, Valdeci Wai-wai disse que além da construção da estrada, que afastou muitos índios da região, houve a migração de uns para a República da Guyana e outros para a reserva Mapuera, (PA).

"Os índios foram incentivados pela Meva (Missão Evangélica da Amazônia) a migrarem para Mapuera. Eles diziam que lá era a terra prometida, igual na Bíblia. Por isso que hoje só existe essa quantidade de índio", esclareceu o líder, ao ressaltar que a maioria deles é evangélica.

PRODUÇÃO - Além de viverem da agricultura de subsistência, os wai-wai vivem da venda da castanha do Pará. Em 1992 ele conta que os índios chegaram a tirar até três mil sacos de castanha, com 49 quilos, a cada três meses. O produto foi todo escoado para Manaus (AM).

"Devido as dificuldades tivemos que parar, mas este ano a expectativa é levar 12 mil toneladas de castanha, no final de julho, para Manaus. Vamos vender a saca a R$ 70,00", disse o Valdeci.

Eles também produzem cerca de três mil sacos de farinha de mandioca, por ano, para vender em Entre Rios, Caroebe, São João da Baliza, São João do Anauá, Vila do Incra e até Boa Vista. O saco da farinha é vendido entre R$ 50,00 a R$ 60,00.
CIR - O coordenador do Cir, Jarcir José da Silva, disse que recebeu a notícia com a alegria e que as homologações representam um indício de que Raposa/Serra do Sol seja homologada em área contínua.

Ele prefere não entrar em detalhe sobre a forma que os índios vão agir, para implementar outros projetos auto-sustentáveis caso a área seja homologada em área contínua. Essa é uma carta que os índios guardam na manga.

Indagado se haveria restrição quanto a entrada de não-índios nas reservas indígenas após a homologação, caso seja em área contínua, Jarcir Souza respondeu: "Não vamos proibir, mas haverá controle da entrada da mesma forma que os não-índios controlam a entrada de estrangeiros no país".

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