VOLTAR

Lula é eleito presidente com a expectativa de salvar a Amazônia

Amazônia Real: https://amazoniareal.com.br/
30 de Out de 2022

Manaus (AM) - Às 18h46, o Brasil iniciou um rompante de gritos, músicas e comemorações: Luiz Inácio Lula da Silva passava (PT) à frente de Jair Bolsonaro (PL) e lá permaneceu até a reta final da apuração, pouco mais de uma hora depois. Lula é o 39o presidente do Brasil. Eleito e reeleito, em 2002 e 2006, o petista ganhou um terceiro mandato com mais de 2 milhões de votos à frente do presidente Bolsonaro. É a vitória mais estreita dos últimos tempos. A eleição do candidato do PT representa uma significativa mudança para o destino do País e, particularmente, da Amazônia, que nos últimos quatro anos foi alvo de ataques incentivados pelo agora derrotado Bolsonaro (PL).

Foi uma eleição tensa, marcada por episódios violentos, ânimos acirrados e uma apuração em que Bolsonaro liderou até mais da metade da contagem de votos. Durante o dia, houve denúncias de operações da Polícia Rodoviária Federal, a grande maioria nos estados do Nordeste, dificultando a ida dos eleitores até os locais de votação. No Xingu, mais de 600 pessoas de seis etnias não puderam votar em Querência, no Mato Grosso, por falta de transporte público - o responsável pelo transporte é o prefeito bolsonarista Fernando Gorgen (União). O presidente do Tribunal Superior Eleitoral, Alexandre de Moraes, afirmou que ninguém deixou de votar por conta dessas ações desmedidas e questionadas pelo PT.

Os resultados revelam uma eleição muito apertada. Em votos válidos, Lula teve 60.345.999 (50,90%) ante os 58.206.354 (49,10%) de Bolsonaro. Na Amazônia Legal, Lula venceu no Amazonas (51,10%), Pará (54,75%), Tocantins (51,36%) e Maranhão (71,14%). Bolsonaro venceu no Acre (70,30%), Mato Grosso (65,08%), Roraima (76,08%) e Rondônia (70,66%). Os último quatro são estados predominantemente voltados para o agronegócio, com forças contrárias à política ambiental que controlam a política local. O candidato do PL também venceu no Amapá (51,36%), invertendo a votação de primeiro turno, quando o petista havia vencido o pleito.

Historicamente, nunca houve uma virada eleitoral, desde que foi instituído o segundo turno no Brasil. Lula derrotou Bolsonaro no primeiro turno. A vantagem foi de 57,2 milhões de eleitores (48,3% dos votos válidos) ante os pouco mais de 51 milhões de votos (43,2%). Outra marca histórica mantida nesta eleição de domingo (30) foi a de que os candidatos que venciam a disputa nos estados do Amazonas e de Minas Gerais levavam a Presidência. No estado amazonense, o peso decisivo veio dos eleitores do interior.

Lula prometeu, durante a campanha, combater crimes ambientais promovidos por milícias, grileiros e madeireiros e afirma que será implacável contra o desmatamento ilegal. Em suas falas, sempre deixou claro que é possível recompor áreas degradadas para o agronegócio, evitando que o desmatamento avance na direção da Amazônia, e reflorestar biomas. É o oposto da política de destruição que ocorreu nos últimos quatro trágicos anos.

No discurso após a vitória, em um hotel de São Paulo, Lula afirmou que o Brasil está pronto para retomar o seu protagonismo na luta contra a crise climática e proteger os nossos biomas, sobretudo a Floresta Amazônica.

"Em nosso governo, fomos capazes de reduzir em 80% o desmatamento na Amazônia. Agora, vamos lutar pelo desmatamento zero", disse.

O presidente eleito falou sobre os povos indígenas e prometeu combater a devastação ambiental. "Quando uma criança indígena morre assassinada pela ganância dos predadores do meio ambiente, uma parte da humanidade morre junto com ela. Por isso, vamos retomar o monitoramento e a vigilância da Amazônia e combater toda e qualquer atividade ilegal", prometeu.

Bolsonaro entra para a história como um presidente que atentou contra a democracia, promoveu o desmonte de órgãos ambientais, cortou recursos nas áreas de ciência, tecnologia e educação e realizou investidas contra a Amazônia e seus povos. Sob seu governo, a destruição da floresta avançou e atingiu os piores resultados em 15 anos. Com sua visão negacionista, promovendo inclusive aglomerações durante a pandemia nos estados da região Norte, ele nada fez para conter as mortes por Covid-19. O presidente, que encerra seu mandato em 31 de dezembro, promoveu e estimulou ataques em série aos povos indígenas. Nos últimos quatro anos, o Brasil perdeu seu protagonismo mundial nas questões climáticas, tanto que nos últimos dias líderes e artistas internacionais se posicionaram contrários à continuidade do bolsonarismo, justamente pelo risco que a Amazônia enfrentaria se ele fosse reeleito.

O dia dos candidatos

Lula votou às 9h25 em São Bernardo do Campo, no ABC paulista. Ele foi recebido por partidários aos gritos "olê, olê, olá, Lula lá" e "viva a democracia". O petista defendeu a democracia e disse que este domingo é o dia mais importante de sua vida. Falou também sobre a importância da data para o povo brasileiro.

"Hoje o povo está definindo o modelo de Brasil que ele deseja. O povo está definindo hoje um modelo de vida que ele quer", disse. "Estou convencido que o povo brasileiro vai votar num projeto em que a democracia seja vencedora."

De branco, Lula estava acompanhado da mulher, a socióloga Rosângela Lula da Silva, a Janja, do vice Geraldo Alckmin (PSB), da ex-senadora Marina Silva, deputada federal eleita pela Rede-SP, do deputado federal André Janones (Avante-MG), do deputado federal eleito Guilherme Boulos (Psol-SP), do ex-ministro Aloizio Mercadante, e de Fernando Haddad (PT), candidato derrotado ao governo de São Paulo.

A presença de Marina Silva ao lado de Lula na hora da votação reforça as expectativas de que a pauta ambiental será um dos pilares do próximo governo. Ex-ministra do Meio Ambiente e líder ambiental acreana, Marina pediu a incorporação de compromissos ambientais ao programa de Lula antes de declarar apoio ao petista e se engajar na campanha do segundo turno.

No programa de governo, Lula já se comprometeu a "buscar o desmatamento zero na Amazônia e emissão zero de gases do efeito estufa na matriz elétrica". Para tanto, o PT afirmava que iria apoiar tanto a grande agricultura de baixo carbono quanto a agricultura familiar com crédito, garantias e assistência. Outra sinalização, repetida em vários momentos durante a campanha, é a criação do Ministério dos Povos Originários e revogar as medidas contrárias às populações indígenas e povos originários. "Vamos reconstruir os órgãos de fiscalização e controle do desmatamento. Vamos acabar com o garimpo ilegal em terras indígenas. Em vez de líderes mundiais de desmatamento, queremos ser campeões mundiais do enfrentamento da crise climática e do desenvolvimento socioambiental. Assim, teremos comida saudável no prato, ar limpo para respirar, água boa para beber e muitos empregos de qualidade com os investimentos verdes".

O presidente Bolsonaro votou poucos minutos após a abertura das seções eleitorais, no Rio de Janeiro, sem a companhia da mulher, Michelle Bolsonaro, ou de aliados políticos. Vestido de camiseta amarela, chegou rodeado de seguranças, abraçou alguns apoiadores e depositou seu voto na urna rapidamente. Na saída, o presidente falou rapidamente com a imprensa. "Se Deus quiser, seremos vitoriosos hoje à tarde. Ou melhor, o Brasil será vitorioso", afirmou o candidato do PL que se tornou o primeiro presidente da República, desde a redemocratização, que tentou a reeleição e perdeu a disputa. Também rompeu outra tradição democrática ao não admitir a derrota, preferindo ir dormir poucas horas depois do pleito.

https://amazoniareal.com.br/lula-e-eleito-presidente/

As notícias aqui publicadas são pesquisadas diariamente em diferentes fontes e transcritas tal qual apresentadas em seu canal de origem. O Instituto Socioambiental não se responsabiliza pelas opiniões ou erros publicados nestes textos. Caso você encontre alguma inconsistência nas notícias, por favor, entre em contato diretamente com a fonte.