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Lula anuncia retomada das obras da BR-163

O Globo, O País, p. 5
06 de Jun de 2006

Lula anuncia retomada das obras da BR-163

Cristiane Jungblut

Na cerimônia de comemoração do Dia Mundial do Meio Ambiente no Palácio do Planalto, o presidente Luiz Inácio Lula da Silva anunciou a retomada das obras da BR-163, que corta a Amazônia, ligando Cuiabá (MT) a Santarém (PA). O presidente argumentou que as obras serão realizadas depois de toda a discussão ambiental e as medidas tomadas para preservar a região. Em fevereiro, o governo criou, por decreto, um distrito florestal sustentável no Oeste do Pará. O distrito fica ao longo da BR-163, com área de 16 milhões de hectares. E ontem o governo divulgou algumas ações de implementação real do distrito, que na prática já fora lançado em fevereiro.
Lula disse que, apesar dos cuidados do governo, sempre haverá os "descontentes" com avanços como o distrito florestal e a estrada BR-163. Para Lula, essa obra será um "exemplo para o mundo".
- Quantas brigas, quantas coisas que pareciam impossíveis? Colhemos hoje uma obra que será motivo de orgulho para o povo brasileiro. Sempre terá um ou outro descontente, alguém que vai dizer que perdeu uma oportunidade de investimento, que a sua madeireira ia crescer mais e não cresceu. Sempre haverá aquele que poderá dizer: "Não, eu ia fazer uma expansão de mais um milhão de hectares de soja para lá ou ia criar mais mil cabeças de gado" - disse Lula, acrescentando:
- Nossa futura geração será agradecida pelo exemplo que daremos ao mundo de como é possível sermos brasileiros e não predadores, como costuma se dizer do Brasil no exterior.
"A elite é capaz de negociar, de fazer concessões"
Na mesma cerimônia, a ministra do Meio Ambiente, Marina Silva, elogiou a elite brasileira, afirmando que muitos empresários estão fazendo doações a projetos de preservação do meio ambiente. Para Marina, os empresários fazem parte da "elite pensante" do país e assim mostram que podem fazer concessões. As declarações da ministra acontecem num momento em que o presidente Lula tem feito críticas à elite, mais diretamente à elite política. A elite também foi alvo de ataques do governador de São Paulo, Cláudio Lembo (PFL), na crise de violência que atingiu o Estado.
- A desgraça de um país não é a sua elite. É não tê-la. Porque a elite é capaz de negociar, de fazer concessões. Falo na elite no sentido positivo. Os empresários do Brasil também pensam estrategicamente e constituem a elite pensante desse país. Significa novo uso dos recursos naturais - disse Marina, citando como exemplo de negociação os encontros entre o ambientalista Chico Mendes, assassinado, e empresários.
A ministra citou doações de grandes empresas a projetos ambientais. Segundo ela, empresas como Boticário e Natura doaram cada uma US$ 1 milhão para projetos de unidades de conservação.
Ao ser perguntada sobre as razões de ter elogiado a elite se o presidente costuma criticar esse grupo da -sociedade, Marina disse que falava no sentido geral do termo:
- Estava falando daquilo que é o sentido real da elite, no sentido de quem pensa estrategicamente. E isso não significa ter dinheiro nem poder. Significa ter compromisso com o país, ter idéias, refletir, refutar ou aceitar projetos e não pessoas.
Marina negou ainda que o governo estivesse ontem, na prática, relançando algo anunciado em fevereiro, quando pela primeira vez foi anunciada a criação do distrito ambiental. Apesar de o governo repetir números de fevereiro, a ministra disse que agora "há um trabalho concreto" de implantação do distrito. Ela argumentou que ele foi criado em fevereiro, antes da sanção da lei aprovada pelo Congresso que trata das florestas públicas, embora já levando em conta as novas regras.
Lula assinou decretos criando unidades de conservação ambiental: Reserva Extrativista Grande-Pracuúba, com 194,6 mil hectares, no Pará; Reserva Extrativista Rio Iriri, com 398,9 mil hectares, em Altamira (PA); Parque Nacional do Juruena, com 1,9 milhão de hectares, no Amazonas e Mato Grosso; e a Reserva Extrativista de Canavieiras, com 100 mil hectares (BA).
Sentado na primeira fila de convidados e autoridades, o ex-deputado petisca Paulo Rocha, que renunciou ao mandato para escapar de uma possível cassação, ficou irritado ao ser abordado pela imprensa.
- Sou dirigente do PT do Pará. Isso aqui é uma luta do nosso Estado. Tenho que estar aqui. Não é constrangedor (para mim), é para a imprensa.

O Globo, 06/06/2006, O País, p. 5

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