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Lucros com sabor de guarana

JB, Economia e Negocios, p.A18
26 de Jul de 2004

Lucros com sabor de guaraná

Os índios brasileiros já sabiam dos benefícios do guaraná há mais de 500 anos. Mas só agora as indústrias de cosméticos e de alimentos começam a tirar proveito das propriedades estimulantes da planta genuinamente nacional para lançar novos produtos. O mercado acaba de receber uma leva de chicletes, shampoos, condicionadores, sabonetes e bebidas que trazem na fórmula o princípio ativo do guaraná.

Numa pesquisa de mercado recente, a multinacional Unilever descobriu que as consumidoras brasileiras apreciam muito o guaraná e resolveu apostar no produto. Levou mais de um ano na elaboração de uma linha de shampoo e condicionador para a marca Seda, líder de mercado com 25,3% de participação.

A Natura também pegou carona na biodiversidade brasileira e relançou no final do ano passado a Linha Ekos. Um dos destaques de venda é justamente o sabonete de guaraná, em barra. Com base vegetal, o produto tem características adstringentes e revigorantes, e é indicado para quem tem pele oleosa. Com o sucesso, a companhia se prepara lançar, nos próximos meses, outros produtos à base de guaraná, como perfumes, cremes e shampoos.

- Vamos dar mais atenção ao guaraná. Os países da América Latina têm aceitado bem a novidade e pretendemos lançar a linha na França até o final deste ano - adianta Maria Elizabeth Pereira, diretora de negócios da Natura.

A Ox, com faturamento anual de R$ 40 milhões, lançou no início do mês passado, um sabonete líquido de guaraná. O objetivo era diversificar a linha da empresa com um ''produto energizante''. Segundo José Antônio Imbriani, diretor geral da Ox, a aceitação da novidade está acima das expectativas porque os brasileiros já conhecem os princípios ativos do guaraná.

- Vamos antecipar o projeto de lançar outros produtos para cabelos e pele com o princípio ativo do guaraná - afirma Imbriani.

O guaraná não está fazendo sucesso só com os adultos. A Betulla, que possui o licenciamento das Meninas Super Poderosas no setor de cosméticos, desenvolveu o shampoo 2 em 1 Mojo Jojo (vilão na série de desenho animado) à base da planta.

- As vendas crescem 20% ao mês. Acabei de aumentar o canal de venda do produto, que estará disponível em supermercados como Carrefour, Wall Mart e Pão de Açúcar - ressalta Marcio Fernandes, diretor comercial da Betulla.

A aposta da indústria tem efeito na área plantada de guaraná no Brasil. Segundo o IBGE, a produção da planta deverá aumentar este ano para 3.725 toneladas. No ano passado, a produção foi de 3.605 toneladas. As exportações também estão em crescimento. Os embarques já alcançam mais de US$ 15 milhões por ano, segundo dados informais do Conselho Nacional de Abastecimento (Conab).

A renda que a cultura do guaraná gera no Brasil é uma incógnita. Segundo Júlio D'Aparecida dos Santos, responsável técnico pelo produto na Conab, até 1996 o Secex disponibilizava informações relativas às exportações do guaraná. Mas, a partir de 1997, com a implantação da Nomenclatura Comum do Mercosul, o guaraná não foi contemplado com códigos específicos e esse acompanhamento ficou prejudicado.

Chicletes e mate

No setor de alimentos, o guaraná também recebe atenção. A Valda, empresa francesa de pastilhas e chicletes, lançou no final de maio o primeiro chiclete de guaraná do mundo, com aroma da planta e um toque de cereja. O produto, que atualmente só é vendido no Rio, deverá ser distribuído em todo o país até o final do ano.

- Esperamos que o produto aumente em 30% nossas vendas na divisão de chicletes. Mas o aroma do guaraná é difícil de tratar. A fabricação do produto é trabalhosa - confessa Huges Ferté, diretor geral da Valda.

O Mate Leão lançou no último verão o mate com guaraná. De acordo com o Antônio Carlos Leão, diretor de Marketing e Vendas, o produto deve incrementar o faturamento da companhia em 15% este ano. Até o final do ano, a companhia ainda lança uma versão light do novo mate com guaraná.

Na opinião da chefe do Serviço de Nutrição da Casa de Saúde São José, Andréa Brum, o aumento do consumo do guaraná está relacionado com a descoberta de seus benefícios para a saúde, em especial a melhora do desempenho físico.

Rumo ao exterior

Já na década de 20, a indústria de bebidas brasileira apostava no segmento de refrigerantes de guaraná. Hoje, esse setor já movimenta cerca de R$ 2,47 bilhões por ano, de acordo com a Associação Brasileira de Refrigerantes. Agora, os principais fabricantes no país, partem para a internacionalização de suas marcas.

O guaraná Antarctica, da Ambev, líder no país com 33% de participação no mercado, escalou a atriz Déborah Secco para ser a nova garota propaganda do produto em Portugal. Por lá, o refrigerante também é líder.

A atriz viaja para a terrinha no segundo semestre para dar continuidade às ações de marketing de uma campanha milionária.

- Estamos pegando uma carona no sucesso da novela Celebridades em Portugal. Por isso, estamos criando uma campanha super forte para o verão português - afirma Luis Ricardo Yamanishi, gerente de negócios do guaraná Antarctica em Portugal.

Claúdia Jenon, diretora executiva da Abir, estima que o aumento do consumo de guaraná, neste ano, será proporcional o crescimento do PIB.

A executiva explica que o setor de refrigerantes é muito sensível à variação de preços e sua expansão depende, em boa medida, da capacidade de consumo da população.

JB, 26/07/2004, p.18

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