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'Lobby ' global pela sustentabilidade

O Globo, Economia, p. 28
15 de Out de 2008

'Lobby ' global pela sustentabilidade
Entidades de países de todo o mundo se mobilizam pela educação para o consumo

Luciana Casemiro

Nada será como antes depois dessa crise financeira que o mundo atravessa. E há quem diga que o padrão de consumo também deverá mudar e de uma forma global. É nesse cenário que, de forma coordenada, a exemplo do que os países estão fazendo atualmente, entidades ligadas à defesa do consumidor e meio ambiente de várias partes do mundo estão mobilizadas hoje na tentativa de sensibilizar os governos para que implementem políticas públicas voltadas a sustentabilidade. A meta do "Global Consumer Action Day" é levar todos a adotarem as dez diretrizes do programa "Aqui e agora: Educação para o consumo sustentável", das Nações Unidas (Unep).
O movimento capitaneado pela Consumers International, entidade de defesa do consumidor que congrega 220 organizações de 115 países, será representado no Brasil pelo Instituto Brasileiro de Defesa do Consumidor (Idec) e pela Associação Brasileira de Defesa do Consumidor - Pro Teste.
No Brasil, governo já desenvolve programas nesse sentido
- Enviaremos cartas aos ministérios do Meio Ambiente, da Educação, dos Transporte e das Cidades pedindo para que cada um em sua área adote políticas sustentáveis.O Brasil já tem um plano de produção sustentável em estudo, mas queremos uma atuação mais incisiva, antes que a degradação seja irrecuperável - diz Maria Inês Dolci, coordenadora da Pro Teste.
A socióloga Lisa Gunn, do Idec, destaca que o Brasil já está um passo a frente dos demais países no que diz respeito a educação para o consumo sustentável. Um processo do qual o Idec participou desde o início, em 2002, com o Ministério do Meio Ambiente, e que resultou, em 2004, na edição de material para formação de professores, em parceria com o MEC. E, ano seguinte, na capacitação de mais de 30 mil multiplicadores:
- O que nos falta é articulação. Precisamos incluir no plano de produção sustentável, por exemplo, a educação para o consumo. Não podemos nos restringir à uma produção mais limpa, é preciso ampliar essa visão. O ministro do Meio Ambiente, Carlos Minc, garante que essa será uma prioridade de sua gestão. Para tanto, sua meta é informar a população dando-lhe a possibilidade de fazer escolhas mais conscientes:
- Não adianta convocar as pessoas a participar somente. Assinei com a Feema e a Anfavea (associação de produtores de carros) um acordo para que a partir do mês que vem o consumidor seja informado quanto cada carro consome de combustível e emite de poluente. Com a Fiesp ficou acertado que as empresas paulistas só usarão madeira de áreas de manejo e que essa informação constará da nota fiscal. Os seis bancos públicos também já se comprometeram a financiar apenas projetos sustentáveis social e ambientalmente.
No que diz respeito ao currículo das escolas públicas e particulares brasileiras, o tema já está incluído na grade do segundo segmento da Educação Fundamental, antiga 5ª a 8ª série. E o Ministério da Educação, antecipa Raquel Trajber, coordenadora geral da Educação Ambiental do MEC, já estuda incluir em 2009 o tema na educação infantil:
- Essas crises, financeira e ambiental, estão correlacionadas ao nosso padrão de consumo. Estamos todos no mesmo barquinho e isso vai mudar a nossa visão de mundo, para uma mais coletiva, que necessariamente passará por formas de consumo mais sustentáveis. Nas escolas estamos trabalhando, além dos 3Rs (reduzir, reutilizar e reciclar), o refletir, que significa pensar sobre os processos de produção, do uso do material ao trabalho humano; e o recusar, ou seja, não consumir o que não vem de uma cadeia ética.
Para Ricardo Morishita, diretor do Departamento de Proteção e Defesa do Consumidor (DPDC), o "Global Consumer Action Day" é estratégico:
- A educação para o consumo tem que estar na formação elementar, pois é a base da cidadania. É importante não só para enfrentarmos a complexidade do mundo, como para refletir sobre ele. Só com consciência podemos ser livres para fazer as nossas escolhas, deixar de ser objeto para ser sujeito na relação de consumo.
Na Argentina, o foco principal também será a educação, o que inclui inclusive a alimentação dentro da escola, diz Ester Reynoso, presidente do Instituto de Direitos de Consumo (Iedec):
- A merenda escolar constitui um exemplo concreto de consumo saudável. É um âmbito no qual as crianças devem começar a ser conscientes de seus direitos como consumidores.

O Globo, 15/10/2008, Economia, p. 28

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