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Lixo ocupa 8 km das margens da Billings

OESP, Metrópole, p. C5
18 de Dez de 2010

Lixo ocupa 8 km das margens da Billings
Ambientalista propôs ação contra Estado e Prefeitura, cobrando a limpeza da área

Eduardo Reina

A Represa Billings, um dos principais reservatórios da Região Metropolitana de São Paulo, tem mais de 8 quilômetros de margens tomados por toneladas de lixo. Isso é o equivalente a duas voltas completas no Autódromo de Interlagos. O problema fica mais visível com o nível baixo das águas.
A mancha de detritos - garrafas plásticas, papel, madeira, móveis inteiros e todo tipo de sujeira, além de esgoto in natura - se estende do Cantinho do Céu, na região do Grajaú, zona sul da capital, a Diadema, no ABC.
Uma das piores partes, um braço da Billings com mais de 2,5 quilômetros quadrados, fica entre o Jardim Apurá e o Balneário São Francisco, no bairro da Pedreira, zona sul de São Paulo. Nessa localidade, o cheiro dos detritos em decomposição e de esgoto é bastante forte.
Urubus sobrevoam a imensidão de sujeira e valas de esgoto ao ar livre cortam ruas das comunidades e deságuam diretamente no manancial. Junto com esses dejetos escorre também lixo e calçadas são tomadas por entulho e sujeira. As fortes chuvas dos últimos dias apenas encobriram um pouco o tamanho do problema, como se empurrasse o lixo para debaixo do tapete.
A situação dramática levou o advogado e ambientalista Virgílio Alcides de Farias a ingressar com uma ação civil pública na Justiça para impedir a continuidade do bombeamento das águas sem tratamento do Rio Pinheiros para a Billings, exigir a remoção imediata do entulho na represa, além de iniciar operação em estações elevatórias de esgotos na região, para evitar o despejo de detritos residenciais nas águas do manancial.
"Se você enfiar uma vara no chão, nesse trecho da represa, ela afunda quase 1 metro. Isso significa que há 1 metro de lodo fecal. Fora o lixo acumulado. O bombeamento das águas contaminadas do Rio Pinheiros não pode continuar sem que seja feito o tratamento adequado. Estão sendo desrespeitadas as Constituições Federal e Estadual", argumenta Farias. A ação é contra a Empresa Metropolitana de Águas e Energia (Emae), concessionária de serviço público de geração de energia elétrica na capital e responsável pela represa. Também foram acionadas a Prefeitura de São Paulo e a Companhia de Saneamento Básico do Estado de São Paulo (Sabesp).
Origem do lixo. Basta andar pelas ruas do Balneário São Francisco para ver lixo e entulho nas calçadas. É o caso da Rua Sebastião Ferreira, uma pequena travessa da Avenida das Garoupas, onde tudo é precário. Lá a placa de identificação foi pintada pelos moradores. A rua não existe oficialmente. Casas se espremem em vielas, com janelas à beira da via. Lixo se acumula nas estreitas calçadas. Há uma vala que recebe canos das casas e escorre 24 horas um líquido fétido: esgoto.
A coleta de lixo é feita três vezes por semana. Mas é possível ver sacos com detritos a qualquer hora na via pública. "A gente procura colocar o lixo na rua, no dia que o lixeiro passa. Mas nem todo mundo é assim. Tem gente que comprou sofá novo e jogou o velho lá na frente. Adivinha onde isso vai parar?", indaga a dona de casa Maria Filomena de Souza, que se mudou para o bairro há cinco anos.
Há 30 anos no bairro, Pedro Luiz Ribeiro diz que o problema do lixo na Billings nesse trecho é recorrente. A parte onde ele mora abriga casas com quintais e árvores e os moradores são mais organizados. Conseguiram até construir uma pista de corrida à beira da represa. "O poder público é totalmente omisso. Sempre reclamamos, pedimos providências e nada acontece. Mas tem responsabilidade também a população, que mora nos morros, na Favela Nova Pantanal e em outras áreas invadidas. O lixo e o esgoto descem desses locais e caem na represa. Há anos fizemos um projeto para tentar resolver o problema e enviamos à Emae. Nada foi feito."
Ribeiro conta que o lixo começou a se avolumar na Billings há 15 anos, quando os bairros das redondezas cresceram com as invasões. "Os córregos viraram esgoto. Mas também é só encher o Rio Pinheiros que bombeiam tudo para cá. O resultado é esse aí: a sujeira e o esgoto mataram a represa."

Três perguntas para...
Jefferson de Oliveira
Professor do laboratório de hidrologia e hidrometria da UNESP

1.Qual a solução para esse acúmulo de lixo?

Seria importante contê-lo com um sistema frequente de dragagem. Também é importante fazer coleta e tratamento de esgotos, efluentes e da água da drenagem urbana.

2.Há algum bom exemplo?

Em Porto Alegre há um experimento que colocou grades e gaiolas em riachos para não deixar o lixo ir para represas. Nos Estados Unidos, na cidade de Palo Alto, há controle muito grande, com avisos em toda a parte para não jogar lixo nas ruas, que pode ir para a Baia de San Francisco.

3.E os programas de educação ambiental?

São necessários. Mas o problema é a comodidade das pessoas em descartar lixo em qualquer lugar. A penalização de quem joga lixo e entulho na rua é necessária. Mas não somente o cidadão: empresas também devem ser autuadas por manter areia, cascalho e outros detritos em locais de fácil escoamento para as galerias de água pluvial. Além disso, é preciso fazer a ligação da rede de esgoto das casas com a de tratamento. Depois, deve-se controlar a chegada da água na represa.

Emae culpa vento e cobra mais ações em conjunto

Eduardo Reina

A Empresa Metropolitana de Águas e Energia (Emae), responsável pela Represa Billings, informou que o lixo se acumula na margem ao ser levado pelo vento. "A problemática do lixo e dos esgotos no reservatório é uma questão que deve ser enfrentada intensivamente pelo poder público estabelecido em todos os municípios do entorno. Só uma ação efetiva e simultânea na coleta e destinação adequada dos resíduos, antes que cheguem aos córregos, poderá reverter o quadro hoje existente."
A Sabesp informou que desenvolve programas para beneficiar 318 mil pessoas no entorno da Billings com a instalação de redes coletoras de esgotos, coletores e interceptores que exportarão os esgotos de todos os bairros para uma estação de tratamento.
No Balneário São Francisco, localizado na margem direita, dos imóveis que têm ligação de água regularizada, 65% contam com coleta de esgoto. A comunidade possui seis estações elevatórias de esgoto que encaminham o esgoto coletado para a estação elevatória de esgoto Alvarenga para, posteriormente, serem bombeados para o Interceptor Pinheiros 6 e, então, tratados na ETE Barueri, diz a Sabesp.

OESP, 18/12/2010, Metrópole, p. C5

http://www.estadao.com.br/estadaodehoje/20101218/not_imp655311,0.php
http://www.estadao.com.br/estadaodehoje/20101218/not_imp655312,0.php

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