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Lixão é risco para a saúde pública

CB, Cidades, p. 26
Autor: CAMARGOS, Vandercy de
06 de Jan de 2005

Lixão é risco para a saúde pública
Especialistas alertam sobre perigo de contaminação de águas do Parque Nacional que abastecem 500 mil moradores do Distrito Federal. Secretaria de Meio Ambiente afirma que chorume está controlado

Samanta Sallum
Da equipe do Correio

O Ministério da Saúde aponta o Lixão da Estrutural como área de contaminação ambiental que provoca risco à saúde pública. A Coordenação de Vigilância Ambiental em Saúde está concluindo mapeamento em todo o país para adotar medidas preventivas que evitem doenças causadas por consumo de água poluída e por contato com materiais tóxicos. E no Distrito Federal a área que preocupa o governo federal é o aterro do Jóquei Clube.
''Há dez áreas identificadas na capital como problemáticas e o aterro do Lixão é a mais crítica. Mas, junto com a Secretaria de Saúde do DF, vamos trabalhar para reverter essa situação. Os lixões não podem estar perto de mananciais, como é o caso do de Brasília'', explicou Daniela Buosi, integrante da Coordenação de Vigilância Ambiental do Ministério da Saúde.
Analistas ambientais do Ibama também apontam o Lixão como ameaça ao Parque Nacional de Brasília. Fotos aéreas, tiradas durante fiscalização do órgão, revelaram que o chorume - líquido poluente - não estava devidamente armazenado. Depois que as imagens foram publicadas pelo Correio, em reportagem na semana passada, a Secretaria do Meio Ambiente do DF mandou fiscais ao local para checar a situação. E garantiu ontem que o chorume está controlado em bacias de contenção. ''Estivemos no local. Eu mesma sobrevoei de helicóptero a região. O chorume que existe está devidamente armazenado'', afirmou a secretária de Meio Ambiente, Vandercy Antônia de Camargos.
As imagens do Ibama foram flagradas em sobrevôo no início de outubro. Na semana passada, a Secretaria do Meio Ambiente fez outras fotos aéreas que mostram o local onde havia vazamento de chorume seco. ''O que o Ibama viu foi acúmulo de água numa vala, provavelmente de chuva. Não era chorume'', reforçou a secretária de Meio Ambiente.
Segundo ela, a vala - que teria virado lago de chorume, de acordo com o Ibama -, estava desativada. Foi aberta para receber lixo hospitalar. ''Nunca foi usada'', contou. A secretária divulgou foto em que o chorume aparece concentrado numa bacia, parecida com uma piscina, e que é impermeabilizada. Uma manta geossintética impede a infiltração no solo.
Período de seca
O Ibama diverge das conclusões da Secretaria do Meio Ambiente. Segundo a engenheira florestal Christiane Horowitz, autora de estudo na UnB sobre o Parque Nacional, o material na vala era chorume - líquido altamente poluente que resulta da fermentação do lixo. ''Na época que tiramos as fotos não estava chovendo. Foi bem no início de outubro, final do período de seca'', afirmou ela, que é analista ambiental e doutora em Desenvolvimento Sustentável. As imagens foram apresentadas em congressos internacionais de meio ambiente.
No período das chuvas a situação piora, pois a água se mistura ao líquido poluente, alastrando-o. Os analistas ambientais alertam que o Lixão pode contaminar os mananciais que abastecem 500 mil pessoas no Distrito Federal. ''É uma aberração. Há chorume por todos os lados. Estudos mostram que a contaminação está infiltrando até 18m abaixo do solo. É um problema ambiental e social. Há cerca de mil catadores expostos a problemas de saúde'', alertou o coordenador do Núcleo de Estudos Ambientais da UnB, Gustavo Souto Maior. ''Há grande quantidade de gases no local, resultantes do material orgânico, que podem causar explosão'', afirmou.

Entrevista - Vandercy de Camargos

Correio - A água que abastece Brasília pode estar contaminada pelo chorume do Lixão?

Vandercy de Camargos - Garantimos que não está. Temos estudo de impacto ambiental que concluiu que haveria uma tendência de poluição caso o chorume não estivesse controlado, mas hoje não há contaminação detectada pelos testes de qualidade da água. O chorume não atingiu mananciais.

Correio - O chorume está controlado?

Vandercy - Sim. Ele está devidamente concentrado nas bacias de contenção. Hoje o Lixão não é como era antes. Temos um aterro controlado. O lixo é compactado. Pequena parte fica exposta aos catadores.

Correio - O lixo em Brasília é reciclado?

Vandercy - Entre 2% e 5%. Mas nossa meta é chegar a 100% e vamos conseguir isso com a implantação do Programa de Manejo de Resíduos Sólidos. Vamos criar nove centros de triagem do lixo, onde ele será separado para reciclagem. E o Lixão da Estrutural será desativado. Já estamos procurando outra área em que não haja riscos ambientais.

CB, 06/01/2005, Cidades, p. 26

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