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Livro registra vida cerimonial dos Tuyuka

ISA-Socioambiental.org-São Paulo-SP
05 de Dez de 2005

A Associação Escola Indígena Utapinopona Tuyuka (AEITU), em parceria com o Instituto Socioambiental, lança na próxima segunda-feira, 12 de dezembro, o livro Casa de Transformação - Origem da vida ritual Utapinopona-Tuyuka. A publicação, em língua indígena e em português, registra a vida cerimonial dos Tuyuka, um conjunto de danças, cantos e benzimentos que marca a cultura deste povo da região do Alto Rio Negro, no noroeste amazônico.

O livro registra cerimoniais que têm função primordial na vida comunitária tuyuka
Os povos da floresta acabam de homenagear suas futuras gerações com mais um presente. Em nova etapa do processo exemplar de valorização cultural que os povos indígenas do Alto Rio Negro vêm conduzindo nos últimos anos, os Tuyuka do rio Tiquié, uma das 22 etnias que habitam essa região do noroeste amazônico, publicam neste fim de ano o livro Casa de Transformação - Origem da vida ritual Utapinopona-Tuyuka, que registra, na própria língua indígena, a vida cerimonial dos Tuyuka. O livro conta também com tradução para o português.

A publicação, editada pela Associação Escola Indígena Utapinopona Tuyuka (AEITU) em parceria com o Instituto Socioambiental, será lançada no próximo dia 12 de dezembro em São Paulo (ver serviço abaixo). Organizada por professores e lideranças tuyuka e pela antropóloga Flora Dias Cabalzar, é um marco na pesquisa desenvolvida pelos índios sobre seus rituais, cantos, danças, benzimentos e entoações, mitos de origem e de transformação.

Os cerimoniais desse povo indígena, foco central da nova publicação, tem função primordial em sua vida comunitária. Influencia dietas alimentares em momentos cruciais, como o parto e o nascimento, a prevenção e cura de doenças, a atribuição dos nomes pessoais. Também evidencia as mudanças permanentes nas formas de expressão e transmissão de conhecimentos entre as gerações, assim como nas formas de habitação e ocupação do espaço ao longo do tempo.

A vida cerimonial dos Tuyuka passa pelas "Casas Rituais", onde eles cantam, dançam e festejam. A importância destas expressões culturais entre eles é singular, mesmo em relação a outros povos indígenas do Alto Rio Negro. Eles ainda constróem malocas para realizar suas danças e cerimônias tradicionais, costume abandonado por outros povos. Para dançar é preciso construir uma casa com esteios posicionados adequadamente. Essa "Casa Ritual" marca a continuidade do povo de hoje com seus ancestrais, com o "Universo Ancestral" e com as "Casas de Transformação" do tempo original.

Acervo de danças, cantos e benzimentos

O livro vem se somar à produção literária tuyuka já em circulação. Mas, ao contrário das primeiras publicações, escritas exclusivamente em língua tuyuka, Casa de Transformação - Origem da vida ritual Utapinopona-Tuyuka é a primeira realização bilíngüe em um único volume. Os outros títulos publicados são: Mariya dita iñanunuse masire (Nossa Terra. Conhecimentos para o manejo), em 2001; Kiti wederira tuohoarira (Histórias tuyuka de rir e de assustar), em 2002; Waikura Wura (Bichos da terra e bichos do ar), em 2003; e Utapinopona Keore, saiña hoa bauaneriputi (Guia para continuar pesquisando a matemática tuyuka), em 2005. A partir de 2004, começaram a ser elaboradas traduções de alguns destes livros, para que possam ser lidos por quem não fala a língua tuyuka.

Casa de Transformação - Origem da vida ritual Utapinopona-Tuyuka compõe o acervo de registros de cantos, danças, benzimentos e conhecimentos associados, iniciado em 2000 para envolver os jovens alunos tuyuka na sua catalogação e tornar o material acessível e disponível para novas iniciativas de intercâmbio e gestão de conhecimentos por parte das comunidades. Estas atividades compõem o programa curricular da Escola Indígena Utapinopona Tuyuka, baseado no ensino via pesquisa e no uso do tuyuka como língua de instrução durante todo o ensino fundamental.

Marlui Miranda com lideranças tuyuka durante a as oficinas de música e dança no Alto Tiquié

Uma seleção de músicas tuyuka também foi publicada no álbum Utapinopona Basamori, um CD triplo gravado entre 2000 e 2003, durante oficinas de música e dança tuyuka, cuja produção contou com a colaboração de pesquisadores do ISA como o antropólogo Alosio Cabalzar, e da cantora e musicóloga Marlui Miranda. Embora reconheçam o valor destes registros, os Tuyuka privilegiam, para a transmissão de todo esse conhecimento, a continuidade da realização do ciclo de festas de acordo com um calendário ritual, astronômico e ecológico anual. E assim a vida cerimonial em suas comunidades se perpetua ao longo do tempo.

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