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Livro é o mais rico acervo de dados sobre a Amazônia

A Crítica-Manaus-AM
Autor: Ivânia Vieira
23 de Dez de 2001

Entre os nós da complexa teia amazônica um pouco mais de 20 milhões de brasileiros e uma impressionante biodiversidade têm sido postos ora como problema, ora como solução, de acordo com o alcance da visão de quem administra e executa ações na região. Essa Amazônia de encanto, desencanto, mobilizadora de paixões, instiga a ciência à fazer descobertas e restabelece saberes até bem pouco tempo apenas autorizados como simpatias nativas.

É nessa trilha de desafios que nasce o que talvez seja, atualmente, o mais rico acervo de informações sobre a região: "Biodiversidade na Amazônia brasileira". A publicação, com 539 páginas, acaba de ser lançada no País e é fruto de um trabalho iniciado em 1999 dentro do projeto 'Avaliação e Identificação de Ações Prioritárias para a Conservação, Utilização Sustentável e Repartição dos Benefícios da Biodiversidade da Amazônia Brasileira'.

Durante um ano e seis meses, pesquisadores das diferentes áreas do conhecimento, com intensa atuação no interior amazônico, buscaram reunir o maior volume de dados sobre a Amazônia Legal até então espalhados por centenas de organizações públicas e privadas. João Paulo R. Capobianco, do Instituto Sociambiental (ISA) e coordenador geral do projeto, diz que 385 áreas prioritárias para biodiversidade na região, foram identificadas e descritas.

Com base nesses estudos, Capobianco afirma, na introdução à obra, que o Brasil deverá ter posição de maior destaque na medida em que avançarem as investigações notadamente na Amazônia sobre a biodiversidade, área ainda pouco estudada em todo o mundo. O potencial brasileiro nesse campo pode ser estimado, entre outras indicações, pelos estudos de Joly & Bicudo, de 1998, diz João Paulo, indicando que de 1,5 milhão de animais e vegetais mundialmente catalogados, entre 10% a 20% estão no País. "São cerca de 55 mil espécies de plantas com sementes (cerca de 22% do total mundial), 502 espécies de mamíferos, 1.677 de aves, 600 de anfíbios e 2.657 de peixes", afirma.

A diversidade cultural da região é um outro componente dessa riqueza. São 170 povos indígenas, com 180 mil indivíduos, 357 comunidades remanescentes de antigos quilombos e milhares de comunidades de seringueiros, castanheiros, ribeirinhos, babaçueiras, indica a publicação concebida para funcionar como um dos instrumentos para o planejamento estratégico da Amazônia brasileira.

Cabe à região papel importante quanto ao equilíbrio ambiental do planeta, visto que nela estão alguns trilhões de toneladas de carbono. Paulo Moutinho e Daniel Nepstad, do Instituto de Pesquisa Ambiental da Amazônia (Ipam), afirma que anualmente a floresta amazônica libera cerca de 7 milhões de toneladas de água para a atmosfera por meio da evapotranspiração. É esse processo, afirmam os pesquisadores, que fornece o vapor necessário à transformação de nuvens de cúmulo, responsáveis pela maior parte das chuvas e, também, na conversão da água em vapor esfria o ar, dando às florestas uma espécie de função de condicionadores de ar gigantes.

Para esses estudiosos, o risco de um futuro mais seco na Amazônia torna-se mais preocupante em função de mudança climatológica nos últimos 15 anos. Fenômenos como "El Niño", indicam, têm reduzido as chuvas e aumentado o calor na Amazônia. Estudos de Nepstad mostram que no "El Niño" de 1997/1998, considerado o pior do século, a chuva foi reduzida em 70% em algumas áreas da Amazônia Ocidental.

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