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Lista pode ajudar extinção

OESP, Vida, p. A12
Autor: REINACH, Fernando
27 de Dez de 2006

Lista pode ajudar extinção

Fernando Reinach

Que o homem tem papel importante na extinção de espécies ninguém duvida, mas as maneiras como contribuímos para a extinção estão longe de ser totalmente conhecidas. Recentemente ecologistas propuseram um mecanismo através do qual aceleramos a extinção - o efeito Allee antropogênico. O curioso é que parte do efeito é causada pelo movimento ambientalista.

O homem caça animais devido ao seu valor. É o caso de casacos de pele. No início, o lucro era certo, as onças eram abundantes e o valor da pele alto. À medida que o extermínio avançou, as onças foram rareando e o custo para matar onça cresceu. Chega um momento em que o custo é maior que o valor da pele e o extermínio diminui. Teoricamente há um ponto em que o caçador perde o incentivo econômico e a população de onças deveria se estabilizar.

Mas algumas vezes isso não ocorre, e, mesmo após terminar o extermínio, o número de animais continua a diminuir: é o efeito Allee. O que corre nesses casos é que há fenômenos relacionados à reprodução que dependem de uma população mínima. Imagine se sobrarem 50 onças. Elas terão dificuldades em se encontrar para se acasalar. Quando uma espécie atinge uma densidade mínima de indivíduos, ela entra numa espiral que a leva à extinção. Foi o que ocorreu com o tigre da Tasmânia, que se extinguiu mesmo após a caça ter sido eliminada.

O que foi descoberto recentemente é que o fato de uma espécie ser listada como ameaçada pode levar o homem a agir de modo a garantir a extinção. É o caso de um pássaro de Bali, o Leucopsar rothschildi, colocado na lista em 1970. Isso fez com que seu preço entre colecionadores aumentasse.

Em Cingapura, 19 pássaros foram encontrados nos mercados em 1979 e 16 foram vendidos nos mercados de Bali em 1982, isso quando se estimava que só 150 existissem na natureza. Hoje só há seis. No caso do peixe chinês bahaba (Bahaba taipingensis), o fato de a espécie ter sido colocada numa lista aumentou de tal modo a demanda que em meados dos anos 90, quando só meia dúzia desses peixes era capturada a cada ano, mais de cem barcos se dedicavam exclusivamente à sua captura. Esse efeito foi denominado efeito Allee antropogênico porque, como os outros efeitos Allee, ele somente passa a atuar quando uma espécie atinge a beira da extinção e é antropogênico por ser causado pelo homem, que dissemina aos quatro ventos que a espécie está ameaçada.

A descrição desse fenômeno tem levado ambientalistas a rediscutir a eficácia da divulgação de listas de extinção, com fotos, locais e hábitos. Muitas dessas listas aumentam a procura de colecionadores pelos animais. São verdadeiros guias para os caçadores ilegais. Com a crença inocente de que "todos desejam" preservar espécies, os movimentos ambientalistas podem estar garantindo o extermínio dos últimos exemplares. Mais informações em Rarity bites, na Nature, vol. 444, pág. 555, de 2006.

Fernando Reinach, Biólogo
fernando@reinach.com

OESP, 27/12/2006, Vida, p. A12

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