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Lideres indigenas serao gestores de projetos

A Critica, Cidade, p.C7
11 de Mar de 2005

Líderes indígenas serão gestores de projetos
Curso o promovido pelo Projetos Demonstrativos dos Povos Indígenas está cerca 30 etnias diferentes para que se tornem gestores de projetos que beneficiem as suas comunidade
Por Ana Ceifa Ossame Da equipe de A Crítica
0 conhecimento dos índios na Amazônia sempre foi repassado empiricamente entre eles, via tradição oral. A chegada do modelo de escola do branco foi uma novidade que, se por um tempo massacrou a cultura indígena, acabou sendo reelaborada por inúmeros povos que a implantaram de maneira diferenciada. Nas aldeias da região Norte, pioneira nos processos de educação diferenciada, as novidades não param de acontecer. Desde o ano passado, 29 índios de 25 etnias diferentes se preparam para ser gestores de projetos que visem ampliar a autonomia e o fortalecimento dos seus povos.
Promovido pelo Projetos Demonstrativos dos Povos Indígenas (PDPI), que conta com financiamento do Governo Britânico, o curso de Formação de Gestores de Projetos Indígenas é o resultado da reivindicação das lideranças, explicou o coordenador, Alexandre Goulart de Andrade, que esta semana em Manaus, acompanhou a realização do quarto módulo do curso no Centro de Treinamento Laura Vicuíia, no Aleixo, Zona Leste. Com aulas presenciais e de campo, num total de 600 horas, a proposta é estimular o protagonismo nos estudantes, que recebem um aprendizado criativo e libertador. "É uma oportunidade concreta para a consolidação da autonomia", argumenta Alexandre.
No curso, os indígenas deverão desenvolver habilidades para aprofundar a análise da realidade histórica e atual das sociedades, seus movimentos e estratégias e proposições específicas, assim como diagnosticar as potencialidades, as necessidades e os riscos relacionados a projetos econômicos, culturais e ambientais. Cada um dos indígenas recebe R$ 500 mensais e após o curso, estará capacitado a realizar projetos, en
volvendo a comunidade local e que deve contribuir para o Plano de Vida do seu povo.
Esperança
Auricélio Shanenawa, 31, da etnia shanenaua, habitante do Estado do Acre, é um dos mais animados com o curso que, segundo ele, traz novidades para o aprendizado nas aldeias. Povo formado por quatro comunidades, num total de 450 pessoas, os shanenauas têm educação diferenciada, a terra demarcada e vivem da agricultura de subsistência, mas se ressentem de iniciativas para desenvolver projetos que fortaleçam a autonomia das comunidades. "Estou otimista em poder aprender para responder a necessidades concretas do meu povo", afirmou.

BLOG
"Valéria Paye
Liderança do Povo Caxuiana, do Pará
"Estou gostando do curso porque ele nos dá acesso a métodos que vão facilitar o trabalho nas comunidades Estamos aprendendo todas as etapas de um projeto, desde a elaboração até como,captar recursos para financiá-lo", dis Valéria Paye Kaxuyana, apostando que o aprendizado vai proporcionara implantação de novos modelos para o desenvolvimento de propostas úteis para o seu povo. Valéria se dedica em cada fase do aprendizado. Após o curso, ela quer ajudara elaborar projetos que serão fonte de renda para o povo indígena. Os caxuiana, vivem no Parque Indígena do Tumucumaque e falam somente seu idioma. Têm caça, pesca e vivem da agricultura familiar. Valéria diz entendera grande responsabilidade quando acabar o curso: terá que dividir o que aprendeu com todos os da aldeias.

Vencendo a burocracia
Zuza dos Santos Cavalcante, 31, do povo maioruna do município de Alvarães (a 580 quilômetros de Manaus), diz que a relevância do curso está em trazer novidades para a vida das comunidades indígenas. "Estamos nos qualificando e ainda aprendendo a vencera burocracia para concretizar nossos projetos", disse.
Coordenador da União das Nações Indígenas de Tefé (Unitefé), uma organização não-governamental que reúne lideranças de 11 etnias de 14 municípios, Zuza faz o curso de olho nos financiamentos que podem vir do exterior e nos conceitos novos que pode levar para a região do Médio Solimões. "Temos aprendido muito", afirmou, para argumentar que a construção dos novos conceitos é um processo elaborado por muitas mãos, por isso terá que ser multiplicado também. 0 otimismo com iniciativas como essa, segundo Zuza, não se resume ao fato dos índios começarem a se familiarizar com a gestão de projetos. "Vamos, nós mesmos, dizer as propostas que queremos ver desenvolvidas na comunidade", acrescentou.

A Crítica, 11/03/2005, p. C7

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