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Líderes de entidades aproveitam CPI para criticar CIR e Igreja Católica

Folha de Boa Vista-Boa Vista-RR
Autor: Jane de Araújo
22 de Nov de 2002

Depoimentos dos índios à CPI das Ongs ocorreram ontem no Senado

Os três depoentes que compareceram ontem à reunião da Comissão Parlamentar de Inquérito (CPI) que apura irregularidades em Organizações Não-Governamentais (Ongs) aproveitaram o momento para atacar o Conselho Indígena de Roraima (CIR) e a Igreja Católica.

Disseram que existem no Estado que, apesar de se apresentarem como defensoras dos índios, trabalham contra os interesses dos indígenas. Afirmaram que a Igreja Católica e organizações internacionais estão por trás dessas entidades, que impedem o desenvolvimento dos índios da região.

O presidente da Sociedade de Defesa dos Índios Unidos de Roraima (Sodiurr), Silvestre Leocádio, disse que a Igreja busca com o seu trabalho isolar os índios da sociedade. Contou que essas organizações, geralmente comandadas por padres, manipulam os índios para que expulsem agricultores das terras, promovendo a queima de pontes e a derrubada de torres de comunicação.

"A Funai [Fundação Nacional do Índio] e a Igreja não querem que o índio se desenvolva. O índio quer ter seu carro, quer se vestir bem. Queremos políticas públicas para o desenvolvimento, queremos plantar. Hoje estamos dentro da sociedade e não há mais como dividir", afirmou Leocádio.

O representante da Associação Regional Indígena do Rio Quinô, Cotingo e Monte Roraima (Arikon), Gilberto Macuxi, acusa o CIR de impedir que os índios tenham acesso ao conhecimento e, assim, se aproveitar da "inocência dos deles". Ele sugeriu ainda que há interesses internacionais por trás do discurso da Igreja, que não beneficia as comunidades. Alertou para o risco de haver a homologação, pelo Governo Federal, da área indígena Raposa/Serra do Sol, vai levar a um grande conflito na região.

"Não queremos expulsar ninguém. Queremos a permanência das vilas e dos produtores de arroz. Não queremos mais padres, que empatam o desenvolvimento na nossa área", disse Macuxi.

Segundo ele, as ações da Igreja levaram os índios yanomami, que estão protegidos em uma grande reserva no Estado, a viverem em situação de miséria, pedindo roupas e vivendo do lixo nas cidades. Por outro lado, Macuxi revelou que, na área em que vive, os índios estão criando gado e vão inclusive colocar produtos no mercado.

Na opinião do diretor da Aliança de Integração e Desenvolvimento das Comunidades Indígenas de Roraima (Alicidir), Anísio Pedrosa Lima, a demarcação de terras e o isolamento dos índios não resolvem os problemas. Também citou os yanomami como exemplo, pois, os índios dispõem de uma grande área, com potencial para fazer com que as comunidades progridam, mas o que se vê é o contrário.

"As diretrizes da Funai impedem qualquer possibilidade de desenvolvimento sustentável para as comunidades. Isso está errado. O povo precisa de liberdade para avançar e ajudar no desenvolvimento econômico do país", declarou à CPI.
Os depoentes assinalaram ainda que Ongs que dizem tratar da saúde dos índios recebem recursos públicos, da Fundação Nacional de Saúde, mas se recusam a prestar atendimento a alguns índios, em uma atitude discriminatória.

SENADORES - Após tomar o depoimento dos três representantes de associações de índios de Roraima, o presidente da CPI das Ongs, senador Mozarildo Cavalcanti (PFL), declarou que a comissão está conseguindo comprovar que muitas Ongs têm problemas que precisam ser investigados. Ele anunciou que a CPI apresentará sugestões para punir as irregularidades e para corrigir as distorções.

O senador Bello Parga (PFL-MA), que substituiu a relatora da comissão, senadora Marluce Pinto (PMDB), criticou a atuação de entidades que promovem o isolamento dos índios e evitam que o desenvolvimento chegue às comunidades indígenas. "A integração do índio à sociedade brasileira não pode ser retardada".

Na opinião do senador Gilberto Mestrinho (PMDB-AM), os depoimentos tomados pela CPI demonstram a realidade da Amazônia. O senador identifica a existência de um grande grupo de pessoas que tem como profissão a defesa dos índios e são pagas com recursos estrangeiros. Essas pessoas, disse, induzem o Governo Federal e o poder público a iniciativas contrárias à vontade dos próprios índios.

Mozarildo Cavalcanti reclamou da ausência do representante do CIR, Jacir José de Souza, que enviou atestado médico informando a impossibilidade de seu comparecimento. Essa, disse Mozarildo, é a segunda vez que o CIR não comparece a uma CPI.

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