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Lideranças indígenas e comunitárias debatem medicina da floresta no Acre

Página 20-Rio Branco-AC
21 de Fev de 2002

Desde os remotos tempos, os povos da floresta extraíram da mata as receitas para a boa saúde, utilizando de forma ordenada, sem ferir o meio ambiente, toda a riqueza e potencialidades das plantas para a cura e tratamento dos males não apenas do físico, como também da mente.
Segundo estudiosos da área, a medicina da floresta, teve sua origem nos povos indígenas, que sempre utilizaram os vegetais como medicamentos e comprovaram sua eficácia no combate às doenças.
Tomando as origens de todo o conhecimento indígena e dos povos que habitam a floresta amazônica, como os seringueiros, em relação à descoberta e utilização de plantas medicinais, mesmo diante de todo o esquecimento e opressão, gerada pelo poder capital, esses povos conseguiram conservar os princípios da rica medicina da floresta. Para comprovar tal fato, os povos da floresta, não se rendendo por completo a globalização, estão conseguindo resgatar e trazer à tona os segredos que envolvem a medicina da floresta, mesmo que seja em doses homeopáticas.
Curadores da floresta
No Acre, com 200 espécies de plantas medicinais catalogadas, essa realidade começa a tomar proporções significativas. Em dezembro de 2001, as comunidades Luz do Juruá, situada na área de Cruzeiro do Sul, Comunidade Nova Era, no Rio Croa e Comunidade Luz da Floresta, em Rodrigues Alves, participaram do Encontro de Curadores da Medicina da Floresta, durante o encerramento do primeiro curso de Agentes de Saúde do Centro de Medicina da Floresta realizado na comunidade Nova Era, no Rio Croa.
"Durante o encontro, debatemos temas como os Princípios de Medicina da Floresta, Preservação do Patrimônio Cultural do Conhecimento Tradicional, Auto-Sustentabilidade das Práticas Curativas das Comunidades, Alianças entre diversas comunidades indígenas, entre outros temas", relata Davi Nunes de Paula, presidente do comitê Ação, Direitos e Cidadania da Aliança do Povos da Floresta.
O encontro, que teve a parceria e participação de diversas entidades e associações de apoio aos povos da floresta e representantes de instituições do governo do Estado, contou com a mensagem enviada pela senadora Marina Silva, uma das maiores incentivadoras do projeto em prol do resgate e preservação da medicina secular da floresta.
Um dos pontos mais importantes tirados do encontro de curadores da floresta, segundo conta Davi, foi a carta de princípios, assinada por representantes das instituições e entidades presentes.
"O encontro selou o encerramento de um curso de medicina da floresta ministrado pela professora Maria Alice Freire patrocinado pelo governo do Estado, por meio da Fundação Elias Mansour, que apoiaram a construção da sede do Centro de Medicina da Floresta e selou a carta de princípios que carrega, entre outras coisas, o compromisso de preservação da floresta e o direito dos povos da floresta sobre o patrimônio da qual zelam. O conhecimento tradicional não pode de maneira nenhuma ser patenteado por outras nações", diz Nunes de Paula.
Centro de Medicina da Floresta - Entendendo que o tratamento e cura das doenças deve levar em conta princípios ligados não apenas ao físico, mas a concepção de um todo, aliado ao espiritual, Davi Nunes, adianta: "No Centro de Medicina da Floresta trabalhamos com um sistema de saúde inovador, com o apoio do governo do Acre, nas comunidades do Juruá. Lidamos com qualquer tipo de doença epidêmica, como verminose, malária, febre, reumatismo entre outras. Nós temos um sistema de terapia geral que envolve o espiritual, o físico, o material de qualquer natureza".
Trabalhando em nível da prevenção e educação ambiental, o Centro de Medicina da Floresta tem conseguido, com remédios oriundos da própria comunidade da floresta, extirpar males como a malária, verminose e diarréia em crianças.
Encontro - Com o objetivo de debater os princípios contidos na carta de Curadores da Medicina da Floresta e discutir e aprovar o estatuto do Comitê Ação dos Direitos e Cidadania da Aliança dos Povos da Floresta do Acre e do Sul do Amazonas, o presidente da entidade Davi Nunes de Paula e o representante da Área Indígena do Rio Jordão José Osair Sales (Siã Kaxinawá), convidam entidades, interessados na área e público em geral, a participarem amanhã, às 19 horas, na Filmoteca, do Encontro de lideranças e Curadores da Floresta.
O novo estatuto é o resultado da incorporação do Sul do Amazonas a Aliança dos Povos da Floresta, por meio da articulação feita pelas lideranças dos Povos Indígenas - Siã Kaxinawá e dos Povos Extrativistas do Vale do Juruá, liderados por Davi de Paula. "Precisamos cada vez mais unir forças para preservar as tradições dos povos da floresta. A medicina da floresta todos sabem sobrevive até hoje graças aos conhecimentos dos povos indígenas e sua força diante da opressão sofrida nesses 500 Anos", conclama Siã Kaxinawá.

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