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Lideranças indígenas da Serra do Traíra recorrem à FOIRN para solucionar conflitos com garimpeiros e comerciantes

Site do ISA- Socioambiental.org.-São Paulo-SP
Autor: Beto Ricardo
19 de Nov de 2002

Lideranças indígenas da Serra do Traíra recorrem à FOIRN para solucionar conflitos com garimpeiros e comerciantes, no extremo sudoeste da TI Alto Rio Negro.

Em carta enviada a diretoria da FOIRN, entregue por portador na sede da federação no dia 18/11/02, as lideranças indígenas da comunidade Vila S. José Mormes, situada no chamado Garimpo Tukano, nas proximidades da Serra do Traíra, pedem providências para resolver problemas que afligem os moradores: entrada de bebidas alcoólicas, conflitos, desrespeito às autoridades indígenas locais, não cumprimento de regras e invasão de brancos. O capitão da comunidade, Paulo Cristiano Peixoto Veiga e o vice Roberto Ferreira Marcondes, signatários da carta, convidam a FOIRN para visitar a região.

O portador da carta, Agostinho Peixoto, que chegou à cidade de S. Gabriel vindo diretamente de Vila Mormes, onde reside, deu mais informações sobre o que está ocorrendo nesse local remoto, no extremo sudoeste da TI Alto Rio Negro. Para sair da Vila Mormes e chegar a S. Gabriel, ele caminhou dois dias até a comunidade denominada Duhutura, seguir daí com motor rabeta até a comunidade S. Luiz, onde conseguiu pegar o barco de linha Dohétiro, que faz a ligação entre Pari-Cachoeira e a sede do município.

Segundo ele, há cerca de 35 moradores indígenas, entre algumas famílias e um grande número de homens solteiros, na maioria das etnias Desana e Tuyuka, oriundos do alto Tiquié.

Além dos indígenas, vivem na comunidade cerca de 50 não indígenas, brasileiros e colombianos, envolvidos na extração ilegal de ouro. Essa comunidade é abastecida por sete cantineiros, brasileiros e colombianos, que trazem mercadorias e combustível da Vila Bittencourt, ao sul, e de La Pedrera e Garimpito, na Colômbia, locais onde a produção de ouro é comercializada. O preço do grama varia entre 19 e 23 reais.

O ouro vem sendo produzido em pequenas quantidades, com o uso de moto-bombas e "moinhos", que tratam de separar o metal da rocha e do cascalho, com auxílio de dinamites e mercúrio.

A comunidade segue isolada, sem comunicação por radiofonia. Uma equipe FOIRN/ISA visitou a comunidade em 1995 e retornou em 1997, durante os trabalhos de demarcação. A FOIRN instalou lá uma radiofonia em seguida. Mas não manteve mais contatos, pelas dificuldades de acesso. A comunidade recebeu a visita de um helicóptero do exército em janeiro de 2003, que lá deixou medicamentos e facilitou uma ação de cobertura vacinal da FUNASA. O prefeito de Japurá está prometendo construir uma escola no local em 2003. Um pastor evangélico de Vila Bittencourt visita a comunidade.

A FUNAI de S. Gabriel, em conjunto com a FOIRN, está planejando uma visita ao local nos próximos dias, aproveitando que a FUNASA tem previsto uma operação de vacinação com apoio de um helicóptero. Com os dados a serem obtidos nessa visita, seria possível planejar melhor uma operação de retirada dos invasores, com apoio da Polícia Federal sem cometer as injustiças e brutalidades ocorridas no passado com os moradores indígenas, em situações semelhantes. (Beto Ricardo, ISA, 19/11/02)

Anexo
Lista de moradores indígenas:
Paulo Veiga (desana) + cinco filhos
Moisés Amaral (tuy)ka e Natália (barasana) + 3 filhos
Roberto Marcondes (arapasso) e Ivone (brasileira)
Hermano dos Santos (desana) e Anastásia Pimentel (tukano) + 4 filhos
Isaías Vidal (tuyuka) e Maria Clara
Gustavo Peixoto Veiga (desana)
Agostinho Peixoto (desana)
Paulo Lemos (tuyuka)
Gilberto Pimentel (tukano)
Márcio dos Santos (desana)
Mateus Galvão (desana)
Bautistinha Saldanha (desana)
João Batista Lopes (desana)
Tiago Teles (tariano)
Faustino Massa (desana)
Felisberto Garcia (desana)
Firmiano Amaral (tuyuka)
Leonardo Meira (tuyuka)
Antonio Lemos (desana)
Tarcísio Amaral

Comerciantes (cantineiros ou taberneiros):
Chanchón e Niza, paisanos; irmã dela Marlene, amigada com brasileiro Hermes, mora em Vila Mormes.
Piña e Graça.
Áurea e Curica.
Beto e Primo
Paula e marido
Gelson e Mona
Neto e esposa

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