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Líder Matis preocupado com mudanças culturais

Coiab-Manaus-AM
12 de Mar de 2003

A rapidez com que a juventude Matis abandona as formas tradicionais de se vestir, colocando em risco a continuação da cultura e dos costumes, é uma das grandes preocupações que o líder Txiaman Matis pretende "conversar com os rapazes e as moças", quando ele voltar para a sua comunidade de origem, na região do Igarapé Aurélio, no Vale do Javari. Txiaman visitou a Coiab, no dia oito de março, acompanhado pelos jovens Makë Matis e Tumi Tucun Matis, após ter visitado comunidades wapichana e yanomami em Roraima.

Perguntado sobre o que mais lhe chamou a atenção ao visitar os yanomami, da comunidade de David Kopenawa, Txiaman Matis respondeu: "gostei muito de ver os parentes ainda usando arco e flecha, e as mulheres muito bonitas, pintadas, conforme a tradição".

Face a essa experiência, o líder disse estar determinado, quando voltar a sua comunidade, a "conversar com os rapazes e as moças, que não gostam mais de se vestir tradicionalmente, usando colares, pinturas e outros objetos no corpo, pois estamos perdendo muito rápido as nossas coisas. As moças estão com uma calça velha já querem uma nova. Vou falar isso para o meu povo, quando eu voltar", enfatizou Txiaman.

O jovem Tumi Tucun Matis, por sua vez, comentou que não gostou de ver os parentes wapichana todos cercados pelos brancos. "Isso não é bom", comentou, mostrando-se indignado pelo fato da terra dos índios em Roraima ser depósito de lixões. O alcoolismo que atinge a alguns parentes é outro assunto que Tumi lamenta e que não gostaria que um dia chegue a sua comunidade, pois "a cachaça trás problemas, não é bom ver os parentes caídos na rua", conclui.

Em Manaus, a delegação Matis conheceu também a linha de montagem da Gradiente, a fábrica de produtos eletrônicos (gravador e televisão), e a industria de motos e motores de barco.

O deslocamento das lideranças para fora da área indígena, segunda Maria Elisa Ladeira, do Centro de Trabalho Indigenista (CTI), faz parte de um programa educativo cultural cujo objetivo é "conhecer outras realidades, a diversidade cultural do mundo dos brancos e a diversidade cultural dos povos indígenas, e ver, por exemplo, como outros povos estão trabalhando a questão da educação escolar". Tudo isso, "para que possam ter referência para pensar o seu futuro".

Os Matis integram junto com os Marubo, Kulina, Canamari e Mayoruna a base política do Conselho Indígena do Vale do Javari (CIVAJA).

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