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Líder guarani denuncia 'genocídio' no Brasil

Luxemburger Wort wort.lu
19 de Jul de 2017

Chama-se Ládio Veron - ou Ava Taperende, "pequeno caminho luminoso" na língua do povo Guarani Kaiowá. Foi em Lisboa, a mesma cidade que em 1500 viu partir a frota de Cabral, que o índio terminou um longo périplo pela Europa. A sua missão: denunciar o 'genocídio' do seu povo e buscar apoio à luta pelas suas terras e pelos seus direitos.

"Estamos fartos de ver nossas terras devastadas, nossos rios envenenados, nossos líderes assassinados, nossas crianças morrendo". O Cacique Ládio Veron repetiu-o em universidades, associações e parlamentos por toda a Europa. "Tinha de vir aqui, gritar e trazer essa tristeza profunda do meu povo."

O líder Guarani Kaiowá terminou em Lisboa uma viagem de denúncia e esperança, em junho. Os amigos que fez esperam-no hoje a salvo na aldeia de Takuara, no Mato Grosso do Sul. Eis a região brasileira com maiores índices de violência contra os povos indígenas: nos últimos 15 anos já foram assassinados 400 índios. Um deles foi o pai de Ládio, Cacique Marco Veron. Em 2003, ao regressar duma viagem semelhante na Europa, foi morto em frente à própria família.

Ládio saiu às escondidas do Brasil. "Não dá para divulgar que um indígena sai de lá para vir falar. Pedi aos jornalistas que não publicassem nada até eu ter passado a metade do oceano". Durante a viagem na Europa, recebeu ameaças de morte, e na sua terra natal mais três líderes Guarani Kaiowá foram mortos. "Eu não tenho medo. Talvez amanhã não esteja aqui, mas outras pessoas vão continuar a nossa luta. O importante é denunciar esse sofrimento todo."

Na raiz do sofrimento: o agro-negócio. No interior brasileiro, a floresta é dizimada para o lucro dos grandes latifundiários e grupos económicos. As tribos indígenas veem as suas terras dar lugar a monoculturas de soja, milho, açúcar e eucalipto. "Aquilo que os europeus comem está misturado com o sangue dos índios", denuncia Ládio Veron. "Estão fazendo produto podre, transgénico, que está vindo para a Europa." O cacique lembra ainda que são bancos europeus a financiar essas indústrias.

"Aquela terra é nossa. Ali vivemos de geração em geração. É uma terra sagrada: ali foi enterrado nosso antepassado, ali teve rezas, ali está o nosso futuro. Por isso a gente não abre mão. Somos seres humanos, queremos viver do nosso jeito. E poder educar nossos filhos do nosso jeito de ser Kaiowá. A gente tinha tudo. Pesca, caça, mel, medicina, lenha. Hoje, o índio sobrevive na linha de comboio, na beira da estrada, na periferia da cidade. Sem terra, sem nada."

A Faixa de Gaza brasileira

Um "verdadeiro faroeste". Para Ládio Veron, na região de Mato Grosso do Sul "não tem lei para o pobre, o negro, o índio, o quilombola. Aqui, os latifundiários são apoiados pelo exército e por paramilitares. "Estão matando o meu povo com caneta, com envenenamento, com bala."

Desde que em 1953 o povo Guarani Kaiowá foi expulso das suas terras e levado para pequenas áreas de confinamento, somam-se descrições de crianças sofrendo à beira das estradas, famílias vivendo debaixo de lonas, sem água potável nem terra para cultivar. Segundo a organização Survival International, na última década pelo menos 53 crianças guaranis morreram de fome.

https://www.wort.lu/pt/sociedade/um-ndio-na-europa-l-der-guarani-denunc…

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