O Globo, O País, p. 14
04 de Jun de 2011
Líder de Xapuri diz que falta fazer reforma
Para ela, questão está por trás das mortes no campo
Marcelle Ribeiro
SÃO PAULO. Dercy Teles Cunha, presidente do Sindicato de Trabalhadores Rurais de Xapuri (no Acre), já presidido por Chico Mendes, disse ontem que o fato de o governo não ter feito a reforma agrária levou aos conflitos no campo e até às mortes.
- O principal responsável é o governo, que não define a questão agrária, não resolve. A reforma agrária não avançou, e as mortes estão intimamente ligadas ao problema fundiário. São denúncias que os trabalhadores fazem de invasões de madeireiros, de grandes proprietários, que levam a isso - disse Dercy, após seminário da central sindical Conlutas sobre a questão agrária, em São Paulo.
Dercy disse concordar com a ministra dos Direitos Humanos, Maria do Rosário, de que dar proteção individual a todos que já receberam ameaças de morte por problemas agrários é impossível. Segundo a Comissão Pastoral da Terra, foram 1.855 entre 2000 e 2011. Mas diz que o governo não pode ficar de braços cruzados:
- Não é a proteção que precisa ser feita. Tem de resolver o problema não pelos efeitos, mas pelas causas. E a causa é o embate pela posse da terra. A população elegeu o PT pois tinha certeza de que, se ele governasse o país, a situação seria diferente.
Dercy afirma que a violência no campo no Acre não tem preocupado recentemente, mas reclama de multas aplicadas a extrativistas por uso de áreas que, diz, não foram regularizadas ainda por demora do governo.
Fábio Lourenço, assentado em Anapu (PA) e um dos coordenadores do projeto Esperança, em que trabalhou a missionária americana Dorothy Stang, também reclama da demora na reforma agrária. Apesar de já ter sido ameaçado de morte algumas vezes por madeireiros, grileiros e políticos, ele não defende proteção policial individual:
- O que a gente quer é a instalação de uma delegacia da PF, a presença deles. A delegacia da PF mais próxima fica a 140 quilômetros, em Altamira. Queremos o Ibama em Anapu.
O Globo, 04/06/2011, O País, p. 14
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