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Líder bororo sofre atentado e desaparece

Diário de Cuiabá
27 de Dez de 2006

Genro de cacique tem caminhão incendiado e sofre seqüestro na Aldeia Nova. Suspeitos são produtores rurais e fazendeiros que invadiram a reserva

O genro da cacique Maria Aparecida Tore Ekureudo, da Aldeia Nova, em Jarudore, no município de Poxoréu (a 259 quilômetros de Cuiabá), teve o caminhão incendiado e não foi mais encontrado pelos moradores. O desaparecimento, segundo indígenas, foi um seqüestro para afugentar os bororos da região. Os índios temem por mais intimidações que partem, segundo as lideranças, de pessoas que moram no distrito e desejam a saída dos índios do local.

João Osmar Lopes, 44, conhecido como Gaúcho, saiu para trabalhar às 4h da manhã de ontem com o caminhão que levava 50 tambores de leite. Ele seguiria para um laticínio. Segundo testemunhas, foi parado na estrada que dá acesso a Paraíso do Leste, um vilarejo próximo ao distrito. Segundo moradores da aldeia, vizinhos viram o caminhão de João ser fechado por dois carros. "Ele saiu bem cedinho para pegar leite. Na estrada, dois carros, um na frente e outro atrás, pararam o caminhão dele. Daí eles colocaram fogo e sumiram com o João", disse um dos que vivem na Aldeia Nova, que não quis se identificar.

João não é índio e vive na aldeia com a bororo Ana Célia da Costa, 16. Ela afirmou que o marido foi seqüestrado. "Não tem nada dele lá, já procuramos por toda a parte. Nem rastro de caminhada. Eles pegaram o João, seqüestraram mesmo", disse Ana, filha da cacique.

Outro morador, branco, que também mora na aldeia, afirmou que são várias as pistas que levam o atentado a ser também um seqüestro. "Um dia, uma camionete S10, preta, fechou o caminhão dele várias vezes. Ele por pouco não saiu da pista. Depois, a camionete sumiu pela estrada", disse o integrante da aldeia que preferiu não dizer o nome.

A cacique Maria Aparecida Tore Ekureudo lembrou que o desaparecimento de João é uma forma de intimidar os índios que moram na região. "Eles estão querendo pressionar. Pensam que pegando ele (João), nós vamos ficar com medo e iremos embora. Ninguém muda o decreto, assim, de um dia para o outro", lembrou a cacique, ao recordar que a área é uma reserva indígena, demarcada desde 1912 e que, depois de mais de 40 anos, foi ocupada por produtores rurais e pecuaristas.

Outro cacique da aldeia, Juracy Rondon Taguie, confirmou que o atentado foi uma forma de amedrontar os índios. A idéia, segundo ele, é fazer com que os indígenas se retirem do local. "Nós já temos alguns suspeitos. Eles sempre nos provocam", declarou o indígena, se referindo a parte de moradores do distrito de Jarudore.

Responsável - Indígenas da Aldeia Nova afirmaram ontem ao Diário que sofrem perseguições por parte de um grupo de moradores e fazendeiros desde a realização de uma audiência pública, em novembro, sobre a ocupação da área por produtores rurais. Segundo líderes, é grande a pressão para a saída dos bororos.

Boa parte dos índios preferiu apontar um dos que encabeçam o grupo de pessoas, que, segundo indígenas, pressionam para sua retirada. Para a maioria deles, o atentado foi liderado por um morador do distrito. "Foi o Mineiro. O que se fala por aqui é que ele queria a cabeça ou do João ou da Maria Aparecida. Todo mundo na cidade fala que ele disse que, se conseguisse um dos dois, a gente ia voltar para trás (sair de Jarudore). Ele fala isso para todo mundo aqui na vila", disse um índio, apontando Carlos Antônio do Carmo, o Mineiro, presidente da Associação dos Moradores de Jarudore, como mandante do atentado, mas afirmando que ele não agiria sozinho.

O Diário encontrou Mineiro em Jarudore, cercado de moradores, na rua principal do distrito. Ele afirmou que o incêndio no caminhão não foi provocado pelos moradores.

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