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Lições do Alto Xingu

Gazeta de Cuiabá-Cuiabá-MT
17 de Ago de 2004

O ministro da Justiça, Márcio Thomaz Bastos, é um homem corajoso e sonhador. Corajoso porque prometeu em público que até o final do mandato do presidente Lula o governo federal terá demarcado, homologado e pacificado todos os conflitos envolvendo terras indígenas no país. A promessa foi feita em um discurso para nada menos que mil guerreiros de sete etnias do Alto Xingu durante a cerimônia do Kuarup. Ele afirmou que o Estado brasileiro tem uma dívida secular com os povos indígenas.

Secular também é o envolvimento do homem branco com o índio, que começou a partir do primeiro momento em que eles pisaram nas terras brasileiras. O contato, inevitável do ponto de vista histórico, deixou marcas profundas nas duas raças. Marcas que transformaram as duas culturas. Se o homem utiliza alimentos e noções de culinária herdadas dos índios, eles usam shorts, chinelos de borracha, muitos ainda são vulneráveis a doenças simples como a gripe.

Demarcar e homologar as áreas indígenas para resolver os inúmeros conflitos que são fruto da disputa de terras é um sonho com bons princípios e ideais, mas ainda distante. O Brasil tem cerca de 410 mil índios de 220 povos, que ocupam aproximadamente 12,5% do território brasileiro. As mais de 40 reservas em processo de demarcação, homologação ou pacificação de conflitos elevarão esse total para 15%.

Talvez essa convivência do ministro com os habitantes do Xingu traga mais que alguns ensinamentos e indicações de um processo de convivência harmoniosa entre índios e brancos, mas lições de respeito ao próximo e à sua liberdade de expressão e pensamento, que são universais. Depois de quase terem sido dizimados, os cerca de 4 mil habitantes do Alto Xingu estão entre os mais organizados e resolvidos, na definição de antropólogos e da própria Funai, porque conseguiram combinar integração com preservação da identidade. Pela via do entendimento eles resolveram os conflitos entre as etnias e mantiveram o relacionamento sem perder sua identidade.

Televisão com antena parabólica, computador e impressora a laser, energia e armas convivem com os rituais de cultura. Além disso, podem ser considerados poliglotas. Aprendem desde cedo a falar pelo menos quatro línguas, além do português, ensinado nas escolas locais.

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