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Liberar mineração na Amazônia devastaria 183 km² de floresta

Revista Galileu - https://revistagalileu.globo.com/
12 de Set de 2022

Cientistas brasileiros mapearam 242 depósitos minerais na Reserva Nacional de Cobre e Associados (Renca) para estimar impacto da criação de novas minas na região

Um modelo desenvolvido por pesquisadores brasileiros mostrou que a abertura de áreas protegidas na Amazônia para projetos de mineração levaria à devastação de 183 quilômetros quadrados (km²) de floresta resultante diretamente das novas minas e à perda de mais 7.626 km² derivada dos impactos diretos e indiretos para a construção de infraestrutura.

Os cientistas mapearam 242 depósitos minerais na Reserva Nacional de Cobre e Associados (Renca). O desmatamento representaria 16,6% dos 47 mil km² da área total da Renca, localizada entre os Estados do Amapá e Pará.

Esse cenário exigiria 1.463 km de novas estradas que facilitassem o acesso à região, causando desmatamento indireto (estimado em 40 vezes maior que a devastação direta da mineração) e fragmentação da paisagem, com uma importante perda de biodiversidade e dos serviços ecossistêmicos da floresta.

O resultado do estudo foi publicado na revista científica Nature Sustainability em meio a discussões de projetos de lei no Congresso Nacional que preveem a autorização de mineração em áreas protegidas, incluindo Terras Indígenas (TIs). Além disso, o desmatamento na Amazônia vem registrando altas taxas, tendo ficado em 8.590,33 km², entre agosto de 2021 e julho de 2022, a terceira maior desde 2015, de acordos com dados do Deter, ferramenta do Instituto Nacional de Pesquisas Espaciais (Inpe).

O trabalho modelou cinco cenários de expansão da mineração por 30 anos na Renca. Atualmente, nove Unidades de Conservação cobrem 90% da área da reserva, sendo duas TIs, três áreas de proteção integral e quatro de uso sustentável. A mineração não é permitida legalmente dentro desse território e das áreas protegidas que estão na Renca.

Em 2017, o então presidente Michel Temer tentou acabar com a proteção da reserva com o argumento de exploração comercial, mas voltou atrás após pressão de organizações não governamentais (ONGs) e sociedade civil.

"Uma das inovações da pesquisa foi a modelagem de impactos futuros de possíveis áreas novas para a mineração e da infraestrutura necessária para chegar até elas, como a construção de estradas. Acreditamos que as discussões e propostas de reduzir áreas protegidas devem considerar o impacto na floresta, em sua biodiversidade e nos serviços ecossistêmicos. Por isso, a necessidade de ter um planejamento estratégico para esses casos", disse à Agência FAPESP a engenheira ambiental Juliana Siqueira-Gay.

Ela é a primeira autora do artigo, que é parte de sua tese de doutorado defendida na Escola Politécnica da Universidade de São Paulo (Poli-USP). Por seu trabalho, foi escolhida pela Associação Internacional de Avaliação de Impacto (IAIA, na sigla em inglês) para receber o Prêmio IAIA Juventude de 2022, voltado para o reconhecimento de conquistas na área da avaliação de impacto ambiental por membros da associação com menos de 35 anos. Recentemente, a pesquisadora recebeu menção honrosa do Prêmio Capes de Tese, instituição que financiou sua bolsa de estudos.

https://revistagalileu.globo.com/Ciencia/Meio-Ambiente/noticia/2022/09/…

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