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Levantamento da Fiocruz revela 297 pontos de conflitos em áreas rurais do país

CB, Brasil, p. 10
29 de Abr de 2010

Levantamento da Fiocruz revela 297 pontos de conflitos em áreas rurais do país

Renata Mariz

Verdadeiros embates travados de norte a sul do país, geralmente em pontos distantes dos centros urbanos, envolvendo violência, desnutrição e mortes, estão catalogados no Mapa da Injustiça Ambiental e Saúde no Brasil. Apresentado oficialmente ontem, em São Paulo, o estudo identificou 297 conflitos, 60% deles na área rural, 33% atingindo diretamente a população indígena e resultando - em quase 80% dos casos - em piora significativa da qualidade de vida nesses locais.

A pesquisa, que está hospedada no site www.conflitoambiental.icict.fiocruz.br e foi desenvolvida pela Fundação Osvaldo Cruz (Fiocruz) e pela Federação de Órgãos para Assistência Social e Educacional (Fase), menciona a presença, em muitos conflitos, de grandes empresas, como a MMX Mineração, de propriedade do bilionário Eike Batista, Petrobras e Vale do Rio Doce. O Distrito Federal não entrou no levantamento devido à inexistência de situações graves, segundo Tania Pacheco, coordenadora executiva do Mapa da Injustiça Ambiental e Saúde no Brasil.

De acordo com a pesquisadora, o maior problema é a luta por território. "São grupos nacionais e internacionais em busca de terra para plantar, criar gado, extrair recursos. Às comunidades tradicionais resta serem sumariamente expulsas ou tornarem-se mão de obra barata, antes de serem definitivamente empurradas para as periferias das cidades", acusa Tania. A concentração dos casos em área rural chama a atenção da pesquisadora: "É o local onde vivem menos de 20% dos brasileiros, mas onde estão os maiores conflitos".

Egon Krakhecke, secretário de extrativismo e desenvolvimento rural sustentável do Ministério do Meio Ambiente, enumera os instrumentos aplicados para diminuir os conflitos cujo pano de fundo é a questão fundiária, tais como delimitar áreas protegidas, monitorar desmatamento e elaborar planos de zoneamento. Sobre os projetos de grandes empresas, Krakhecke defende o diálogo. "Sempre haverá divergências. Tem que se avaliar os impactos de grandes obras, as compensações para a população local, tudo com muito critério", diz.

Nos problemas mapeados pelo estudo, a Petrobras é mencionada em 13 conflitos. A Vale do Rio Doce, em 14, e a companhia de mineração MMX, em três. Em resposta via assessoria de imprensa, a Petrobras informou que não tem ligação com três dos casos listados. Em relação aos outros, a empresa destacou que são questões superadas. "A companhia promove o diálogo contínuo com as comunidades locais com o objetivo de estabelecer um canal de comunicação direto e regular. A partir desse diálogo, a companhia desenvolve projetos voltados para a melhoria da qualidade de vida dessas populações", diz a nota.

A Vale do Rio Doce também rechaçou a lista, destacando que em oito dos 14 casos listados o empreendimento já foi extinto ou a empresa trabalha em consórcio. Quanto aos demais, a mineradora afirmou que estudos sobre impacto ambiental são sempre levados em conta, além de projetos sociais voltados para as comunidades. Em nota, a empresa destacou como preocupação constante "garantir a convivência entre a atividade econômica e o meio ambiente".

Sobre dois casos listados no estudo, a MMX ressalta que não atua mais nas áreas. Quanto ao terceiro, sobre o Supeporto do Açu (RJ), a companhia informa que opera com licença de instalação concedida em maio de 2007, levando em conta o Plano Básico Ambiental.

Acesse o mapa pelo site www.conflitoambiental.icict.fiocruz.br

CB, 29/04/2010, Brasil, p. 10

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