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Laranjeira Nhanderu, a burocracia e o despejo

Adital - http://www.adital.com.br/
Autor: Egon Dionísio Heck *
03 de Ago de 2009

Mais uma semana de visita a comunidades e acampamentos Kaiowá Guarani. Em meio ao sofrimento continua teimosamente sobrevivendo a semente da esperança. Os grupos de trabalho de identificação das terras, estão novamente anunciados. Finalmente parece que estão vencidos os obstáculos interpostos pelos interesses contrários à demarcação. Mas muitos temores e medos continuar rondando o processo de conclusão da regularização das terras nesta região do extremo sul do Mato Grosso do Sul. Enquanto os índios sobrevivem em situação de miserabilidade muitas vezes, o show das elites continua. Em Bonito, o festival de inverno, aquece as noitadas do ecoturismo com a presença de Caetano Veloso, Elba Ramalho, Seu Jorge, Vanessa da Mata...enfim figuras famosas para abafar os gritos que vem das centenas de barracos das beiras da estrada e da vida.

"A qualquer momento a justiça poderá decretar o despejo da comunidade Kaiowá Guarani de Laranjeira Nhanderu. A juíza está irada com a Funai por não estar cumprindo o que foi determinado na decisão judicial de 27 de maio, quando ficou acertado efetivo trabalho do órgão no sentido do andamento do processo de identificação da área e envio de relatórios quinzenais sobre o andamento das atividades". Essa é a informação que chega à comunidade Kaiowá Guarani, no município de Rio Brilhante. É a volta da ameaça e do drama vivido há poucos meses.

Cabisbaixo, Faride, sempre extrovertido, era a imagem da preocupação e da revolta. Final de dia. Encontro de conversa, no barraco de dona Glória, à beira da BR 163. O pesadelo que voltou a rondar a vida da comunidade, os deixou desassossegados e indignados. "Precisamos sair da moita, pra gritar novamente ao Brasil e ao mundo", foi dizendo uma das lideranças. Adelaida, uma das mulheres guerreiras, manifestou sua preocupação, especialmente com os velhos e as crianças novamente ameaçados de serem despejados para a beira da estrada, correndo sérios riscos de vida e sendo submetidos a grandes sofrimentos. "Nossas galinhas e outros bichinhos vão estar sujeitos a morrerem todos atropelados por esse montão de carros que passam toda hora aqui na estrada".

Várias lideranças foram manifestando sua enorme preocupação, por estarem chegando a uma situação que esperavam não iria acontecer. Zezinho, que desde a decisão juíza Dra. Marli, naquele final de maio, começou a se mobilizar cobrando dos responsáveis atitudes para o cumprimento da decisão,

Já da parte da Funai, vem as evasivas dos entraves burocráticos. "Não podemos criar um novo grupo de trabalho..." Já da parte dos técnicos responsáveis pelo laudo de identificação vem o temor de ir para a área em função das constantes ameaças dos senhores do agronegócio e políticos da região. Inclusive estimulando os proprietários a contratarem seguranças para evitar qualquer movimentação nas propriedades.

* Assessor do Conselho Indigenis (CIMI) Mato Grosso do Sul

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