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Laboratório Aché nega ter recebido informações

O Globo-Rio de Janeiro-RJ
09 de Jun de 2002

O diretor-geral do laboratório Aché, José Eduardo Bandeira de Melo, reagiu à acusação de que a empresa se beneficiou de um estudo feito por pesquisadores da Universidade Federal de São Paulo (Unifesp) com 400 ervas medicinais dos índios craô. Segundo ele, o laboratório tem interesse na pesquisa, mas em nenhum momento recebeu qualquer amostra de plantas ou os relatórios produzidos pela equipe do professor Elisaldo Carlini, do Departamento de Psicobiologia da Unifesp.

- Nunca vimos nenhum documento, nenhuma planta retirada da reserva craô. Somos transparentes. Estamos inteiramente abertos a qualquer investigação - disse Bandeira de Melo.

O diretor confirmou que o Aché estava disposto a financiar parte do estudo e até iniciou negociações com os índios e os pesquisadores. Mas disse que a proposta foi abortada no exato instante em que o laboratório esbarrou na falta de sustentação jurídica do contrato firmado entre a Unifesp e a Associação Viti-Cati que, teoricamente, liberava a pesquisa na reserva indígena.

"Somos uma empresa brasileira séria"

Apesar dos erros, Bandeira de Melo disse que tudo estava sendo feito às claras e, portanto, não há razão para se confundir essas questões com práticas de biopirataria.

- Somos uma empresa brasileira séria, não somos piratas - diz.

Carlini, chefe da equipe responsável pela pesquisa, também rechaçou a denúncia de apropriação irregular do patrimônio cultural dos craô. Segundo ele, as plantas recolhidas na reserva estão no Instituto de Botânica do Estado de São Paulo e as informações obtidas por sua equipe com os pajés estão devidamente armazenadas em computadores.

O professor também nega que os dados tenham sido repassados, ainda que involuntariamente, ao laboratório Aché. Por isso, para ele, seria impertinente qualquer pedido de indenização por parte dos índios.

- Isso é um disparate total. Não repassamos plantas nem pesquisas para qualquer laboratório - diz.

A professora Eliane Rodrigues, que coordenou em Tocantins a coleta das plantas e as entrevistas com os pajés, também sustenta que não houve difusão irregular do conhecimento obtido com o material dos craô. Ela argumenta que, no ano passado, fez uma palestra para os diretores do Aché para mostrar aos executivos o potencial das plantas.

A apresentação foi ilustrada por gráficos, mas Eliane diz que, mesmo assim, não revelou o conteúdo básico de sua pesquisa.

- Fiz uma palestra para representantes do Aché. O professor (Elisaldo) pediu que eu falasse um pouco sobre o projeto. Porém, não tratamos das indicações terapêuticas. Tenho toda a segurança para dizer isso - garante Eliane.

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