VOLTAR

Kayapó dizem não a Belo Monte e sim aos Negócios Sustentáveis

Amazônia.org.br -São Paulo-SP
Autor: Carmen Figueiredo
06 de Abr de 2006

Uma grande reunião dos índios Kayapó, com duração de quatro dias, foi um espaço para mais de 200 índios expressarem seu descontentamento com a política indígena do governo federal, com o projeto de Belo Monte e com as atividades ilegais que rondam suas terras. Propositivos, os índios vêem adotando a opção de investir nos negócios sustentáveis, utilizando práticas de manejo em suas atividades econômicas.

Acompanhe o relato de Carmen Figueiredo, que acompanha as atividades de negócios sustentáveis desenvolvidas na Terra Indígena e esteve presente ao evento do povo indígena:

"Entre os dias 28 de março e 01 de abril de 2006, às margens do rio Xingu na aldeia Piaraçu, no Mato Grosso, reuniram-se 200 índios Kayapó, entre lideranças e guerreiros. Também participaram do encontro lideranças Panará, Juruma e Tapayuna.

A pintura do preta usado por eles no encontro, cobrindo metade do rosto, expressa o estado de espírito dos índios: "estamos bravos", a guerra é possível.

Esse mesmo estado de espírito foi registrado anteriormente por lentes de todo o mundo. Era 1989 e várias etnias protestavam em Altamira contra a construção da hidrelétrica de Belo Monte. Na ocasião, a índia Kayapó Tuíra, de facão em punho, foi a expressão máxima da resposta dos índios à obra.

Assim foi a primeira parte do encontro no Piaraçu: uma viagem no tempo, pois os índios novamente discutiam o fantasma de Belo Monte que insiste em assombrá-los. A resposta continua a mesma; um "não" coletivo. Desta vez, uma velha índia Kayapó empunhava o facão afiado e garantia estar pronta para usá-lo.

Depois da viagem no tempo, os Kayapó voltaram ao presente com a mesma garra com que continuam brigando com os velhos fantasmas.

Discutiram a necessidade cada vez mais premente de se organizarem e conseguirem apoio para defenderem seus territórios, alvo de invasões e espoliações constantes.

Não confiam mais no governo federal, seja para fiscalização ou seja para qualquer outro assunto que diga respeito a defesa dos direitos indígenas. Irritados, disseram não estar satisfeitos com a política indigenista, ou melhor, a falta dela, praticada pelo atual governo e levada a cabo pelo presidente da FUNAI. O Presidente da FUNAI, apesar de convidado, não compareceu neste encontro de tamanha importância.

Os representantes de organizações não governamentais presentes ouviam respeitosamente as discussões entre os índios. Organizações indígenas como o Instituto Raoni e Floresta Protegida apresentaram suas preocupações, seus trabalhos e suas demandas.

Os Kayapó fizeram uma escolha clara com relação ao presente e ao futuro: querem e precisam de atividades produtivas economicamente viáveis, mas não qualquer uma; a hora é de dar continuidade aos negócios sustentáveis.

Estes índios sabem, melhor que ninguém, os malefícios da atividade madeireira e garimpeira em suas terras. Atividades que degradam não somente o meio ambiente, mas principalmente sua cultura.

Nesse sentido, o Instituto Raoni e a comunidade indígena do Baú, lado a lado, provam que o discurso já foi colocado em prática com sucesso. Com o entusiasmo de quem conhece as dificuldades e os desafios para se chegar até aqui, eles apresentaram para as demais lideranças os resultados do projeto de beneficiamento de óleo castanha em curso.

Com apoio do projeto Balcão de Serviços para Negócios Sustentáveis de Amigos da Terra e do IMAFLORA, a Terra Indígena Baú está em processo de Certificação Florestal (não madeireira) FSC e Orgânica tendo já sido realizada a missão de auditoria no mês de março.

A comunidade indígena do Baú, após mais de uma década de conflitos fundiários que resultaram na diminuição de seu território e pressões madeireira e garimpeira em suas terras diz "não" às atividades ilegais e "sim" aos negócios sustentáveis e começa a colher os frutos desta escolha.

A nós, não índios, cabe dar apoio a essa escolha sustentável antes que aqueles que apóiam as atividades nocivas ao meio ambiente e a cultura Kayapó voltem a ganhar força.

Não nos enganemos, a pressão predatória sobre os índios e suas terras é diária e constante assim como a força deles para resistir, com o devido apoio para isso. "

As notícias aqui publicadas são pesquisadas diariamente em diferentes fontes e transcritas tal qual apresentadas em seu canal de origem. O Instituto Socioambiental não se responsabiliza pelas opiniões ou erros publicados nestes textos. Caso você encontre alguma inconsistência nas notícias, por favor, entre em contato diretamente com a fonte.