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Justica interrompe expedicao no Javari

A Critica, Cidades, p.C5
05 de Mai de 2004

Justiça interrompe expedição no javari
Juíza Federal Fabíola Bernardi considera quê não é missão da Funai descobrir que tipo de doença atinge os índios da região. Funasa é o órgão indicado
GERSON SEVERO DANTAS
DA EQUIPE DE A CRÍTICA
A Justiça Federal determinou a interrupção imediata da expedição "Imagem do Javari", comandada pelo indigenista Sidney Possuelo na região Vale do Javari, Oeste do Amazonas, onde habitam várias etnias. A expedição pretendia rastrear doenças infecto-contagiosas que atingem índios das etnias marubo, matis, maioruna, maiá, culina-pano, canamari, djapa, culina araua e os temidos corubos (caceteiros), num total de 6 mil indivíduos. 0 trabalho seria feito por meio exames laboratoriais, raios-x e ultra-sonografias.
A interrupção foi determinada pela juíza federal substituta do Amazonas, Fabíola Bernardi, por meio de liminar concedida numa ação civil pública movida pelo Ministério Público Federal, que argüiu conflito de competência entre a Fundação Nacional do índio (Funai), da qual Possuelo é funcionário, e a Fundação Nacional de Saúde (Funasa), a responsável pela saúde indígena.
A expedição foi organizada depois que 23 índios morreram, no ano passado, de causas ainda não esclarecidas no Vale do Javari, mas que estudos preliminares apontam para a contaminação bacteriana genericamente denominada de "síndrome febril íctero-hemorrágica". A Gerência da Funasa do Amazonas também realizou um expedição à área indígena com o intuito de descobrir as causas dessas mortes. "Se a Funasa já desenvolve um programa de diagnóstico das doenças que vêm afetando as comunidades enfocadas, não vejo necessidade iminente na formação de expedição que, sem a coordenação daquele órgão proponha-se a realizar o mesmo trabalho", escreveu a magistrada no despacho, divulgado em sites da Internet.
A expedição percorreria aproximadamente 600 quilômetros de ex tensão seguindo os rios Itaqui e Ituí, realizando os exames que poderiam rastrear doenças infecto-contagiosas como hepatite e turberculose. 0 projeto contou com o apoio do Colégio Brasileiro da Radiologia e o patrocínio da Divisão de Imagens para a Saúde da Kodak
Além de determinar a interrupção da expedição, a juíza também proibiu a exibição de imagens dos índios do Vale do Javari, incluindo imagens de diagnóstico obtidas com os equipamentos fornecidos pela Kodak.
O Conselho Indígena do Vale do Javari (Civaja), que denúnciou a morte dos 23 índios a A CRÍTICA, manifestou na última segunda-feira apoio às atividades da expedição e solicitou sua retomada. "Em razão dos benefícios proporcionados aos indígenas, não vemos qualquer obstáculo aos trabalhos médico e laboratoriais, sobretudo devido à importância de se divulgar a verdadeira situação da saúde indígena da região".

Reserva é a segunda maior do Brasil
A terra indígena Vale do Javari, assentada em terras dos Municípios de Benjamin Constant (a 1.116 quilômetros de Manaus) e Atalaia do Norte (a 1.138 quilômetros), é a segunda maior reserva do Brasil, com 85 mil quilômetros quadrados. Nela vivem cerca de 4 mil índios já contatados e, estima-se, mais de 2 mil isolados em 22 pontos conhecidos pelos indigenistas da Fundação Nacional do índio (Funai).
Estudos arqueológicos indicam que a região é habitada por povos da família linguística Pano há mais de mil anos.
DIAGNÓSTICO
Médico radiologista e idealizador da expedição "Imagem do Javari", o Catarinense Sergio Brincas estima que 70%" dos índios da região estejam contaminados. Como a principal suspeita é de que a contaminação seja por dois tipos de hepatite (B e Delta), Brincas acredita que a contaminação seja fruto do contato com não-índios dos municípios próximos à reserva. "Nossa idéia é examinar os índios para diagnosticar e evitar que esse tipo de doença atinja aquelas comunidades isoladas, aqueles índios que se recusam a manter contato com a nossa sociedade", diz Brincas, no site da expedição(http://www.imagemdo-javari.br/html/home.php)

PERFIL
SIDNEY POSSUELO, CHEFE DO DEPARTAMENTO DE ÍNDIOS !SOLADOS DA FUNAI
O sertanista é um dos mais experimentados dos quadros da Funai, onde está há 36 anos e já foi presidente. Participou de expedições com os irmãos Villas-Boas e com Apoena Meireles. Seus trabalhos com índios isolados rendeu-lhe polêmicas com os próprios colegas de Funai, que não aprovam seus métodos; e inimigos, como madeireiros, garimpeiros e missionários.

A Crítica, 05/05/2004, p. C5

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