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Justiça dos EUA põe em risco acordo do clima

O Globo, Opinião, p. 14
12 de Fev de 2016

Justiça dos EUA põe em risco acordo do clima
Suprema Corte suspende liminarmente regulação que reduz emissões por termelétricas, após ação de governadores republicanos e lobby do setor

Num grande retrocesso para o acordo do clima firmado em Paris, durante a COP-21, em dezembro passado, a Suprema Corte americana suspendeu temporariamente, por cinco votos a quatro, na terça, as restrições impostas pelo governo Obama às emissões de gases do efeito estufa por usinas termelétricas. É a primeira vez que a mais alta instância da Justiça americana suspende uma legislação liminarmente enquanto o mérito da ação não é julgado nas instâncias da Justiça federal.
A regulação contestada foi implementada pela Agência de Proteção Ambiental (EPA, na sigla em inglês) e exige que os estados promovam cortes expressivos de CO2 pelas termelétricas a carvão, que são a maior fonte de emissão dos EUA. A medida representava o passo mais importante de uma ampla revisão da matriz energética americana e, ao mesmo tempo, sinalizava para os demais países da COP-21 de que Washington está, de fato, comprometido em cortar suas emissões em um terço até 2030, o que implica substituir gradualmente as usinas termelétricas por fontes energéticas alternativas.
A medida, porém, foi contestada numa ação coletiva impetrada por 29 estados americanos, a maioria governada por republicanos, e associações comerciais representantes do setor. O argumento principal é o impacto dessas medidas nas economias locais e no emprego. Embora a decisão da Suprema Corte seja de caráter liminar, especialistas afirmam que ela sugere a tendência dos juízes em vetar a regulação da EPA.
Se confirmada em caráter permanente, a decisão da Justiça americana põe em risco o pacto da COP-21. Segundo analistas, sem que os EUA possam implementar as restrições pretendidas, outros grandes emissores, como China e Índia, também devem rever seus compromissos acertados em Paris. Isso significaria um retrocesso no pacto histórico a ser referendado em dezembro.
Dezoito estados, a maioria liderada por governadores democratas, foram contra a ação para suspender a regulação da EPA, argumentando que a mudança climática já causa danos como inundações, uma quantidade maior de tempestades, incêndios florestais e secas. Esses eventos, afirmaram eles em um comunicado, são duradouros e irreversíveis. Assim, qualquer atraso das medidas para reduzir as emissões de CO2 vai piorar a situação.
Resultado de disputas entre republicanos e democratas, a ação contra a regulação das termelétricas vai além do impacto na economia local. Ela ameaça impor um retrocesso irreparável num compromisso duramente negociado pelos países em defesa do planeta, e que talvez já venha tarde demais. Manter uma matriz energética suja em defesa do emprego e da sobrevivência de um segmento poluidor e inadequado à vida moderna é mais uma prova do irracionalismo político, que inverte a ordem de grandeza de valores.

O Globo, 12/02/2016, Opinião, p. 14

http://oglobo.globo.com/opiniao/justica-dos-eua-poe-em-risco-acordo-do-…

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