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José de Lima Kaxinawá: "Apresentamos à ONU uma proposta que é um caminho para a preservação do meio ambiente"

Página 20-Rio Branco-AC
Autor: Rose Farias
30 de Mai de 2003

A experiência que vem sendo implantada pelos agentes indígenas agroflorestais do Acre, utilizando o conceito de gestão ambiental, foi mostrada no Fórum Permanente dos Assuntos Indígenas da Organização das Nações Unidas (ONU), que aconteceu em Nova York (EUA), de 12 a 23 deste mês. Participaram do encontro representantes dos povos indígenas de países como Venezuela, Chile, Equador, Finlândia, Noruega, África do Sul, Argentina, Brasil, Estados Unidos, México, Bolívia e outros.

Os povos indígenas do Acre estiveram representados pelo secretário da Associação do Movimento dos Agentes Agroflorestais do Acre (AMAAI-AC), José de Lima Kaxinawá.

O encontro tratou dos problemas que atingem as etnias indígenas de vários países, principalmente no tocante à invasão de suas terras e o desrespeito aos seus direitos. Também foram levantadas discussões sobre a educação, a cultura e o meio ambiente.

Segundo relatou José de Lima Kaxinawá, o encontro foi um instrumento de denúncia, no qual os indígenas apontaram à ONU as soluções viáveis para conter os avanços dos problemas que vêm sofrendo.

Para José de Lima Kaxinawá, o resultado tirado do Fórum foi positivo para os povos indígenas do Acre. Segundo ele, as experiências aplicadas pelos agentes agroflorestais envolvendo educação, cultura e meio ambiente representam um avanço em relação às experiências dos outros povos que participaram do encontro.

Leia a entrevista.

Como surgiu o convite para o senhor participar do Fórum?

Uma aliada da Comissão Pró-Índio, que é membro do Fórum, Rebeca Sommer veio aqui no Acre falar para gente o que acontece na ONU. Então, ela disse que era bom os índios do Acre irem lá e contar sobre as experiências que estamos fazendo aqui com educação, ambiente, cultura, e falar também de problemas como as invasões de terras por madeireiros peruanos que estão entrando nos corredores ecológicos do Acre.

Em que se fundamentou sua fala durante o encontro?

Tinham temas a serem enfocados como meio ambiente, cultura, direitos humanos e educação. Relatei nossa experiência com meio ambiente.

O senhor percebeu que o que vem sendo aplicado pelos agentes agroflorestais no Acre representa um avanço em relação as experiências de outros povos?

Sim. Na minha observação, fui a única pessoa que falei do resultado. Estamos trabalhando e as experiências estão dando certo. Muitos índios falaram dos problemas que eles estão enfrentando e não apontaram soluções. A proposta que vem sendo feita pelos agentes agroflorestais do Acre aponta uma solução para a discussão sobre o meio ambiente.

Isso tem relação com o trabalho dos agentes agroflorestais?

Sim. Sabemos que o problema do meio ambiente passa pelo agrofloresta. Dentro desse trabalho recuperamos áreas degradadas, fazemos a vigilância e fiscalização da nossa terra, trabalhamos com educação ambiental com jovens e adultos, com intercâmbio e trocas de experiência, artes e ofício, reciclgem da madeira, não somente em nossa aldeia como no entorno. Acreditamos que o que estamos fazendo pode ser solução para as outras terras indígenas que existem no mundo.

E quais as recomendações que o senhor apontou durante o Fórum?

Para que se fortaleça esse tipo de projeto, que vem apontando bons resultados para as populações indígenas que enfrentam uma série de problemas.

O encontro resultou em algum documento?

No final foi feito um documento geral contendo as recomendações de cada representante. Esse documento foi aprovado pelos 16 membros do Fórum Permanente dos Assuntos Indígenas, oito são indígenas, e os outros oito representantes dos governos dos países que compõem a ONU. Eles aprovaram essas recomendações e esperamos que isso funcione e não fique somente no papel, pois precisamos fortalecer esses projetos.

Que significado tem para os povos indígenas do Acre participarem de um Fórum como este?

É bom para os dois lados. Para o Fórum, que está atento aos problemas que os povos indígenas do mundo inteiro vem sofrendo e como uma forma de divulgarmos o trabalho que estamos fazendo aqui no Acre, na Comissão Pró-Índio, com a educação indígena e o meio ambiente. Esse é trabalho muito bom, em que os próprios agentes de saúde, as comunidades indígenas não são mais dependentes dos brancos. A gente leva essas experiências e podemos com isso servir de exemplo para povos de outros países, fortalecendo a língua e a cultura. Isso significa um ótimo espaço que devemos conquistar dentro da ONU, para buscar mais um pouco de ajuda, principalmente em relação as invasões das terras indígenas. Estaremos em Genebra em agosto participando do próximo Fórum, para fazermos as denúncias sobre as invasões de terras indígenas do mundo inteiro.

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