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Jornalismo em defesa da questão do meio ambiente

A Crítica-Manaus-AM
Autor: Ivânia Vieira
07 de Abr de 2002

Treinado a ver o mundo com lentes ampliadas, o jornalista norte-americano Scott Wallace, 47, é de uma verdade um tanto ácida quando fala do futuro da humanidade. Diz que será de "mais sofrimento, guerra, destruição e fome". Apesar disso, afirma ser um otimista, por uma única razão, tem disposição para fazer algo positivo na sua passagem pela terra. Na Amazônia, pela segunda vez - a primeira ocorreu há dez anos quando veio cobrir a ECO-92, a conferência mundial para desenvolvimento e meio ambiente, no Rio de Janeiro -, Wallace deixou a ECO e embrenhou-se na região para acompanhar a história do índio Paiakan, à época denunciado por crime de estupro. O jornalista passou um mês no Sul do Pará, investigando o caso e diz, hoje, quando o assunto volta à tona, que ficou muito confuso com tudo o que ouviu e viu. Produtor, repórter e fotógrafo, membro do Centro Internacional de Jornalistas, Scott chegou a Manaus no final de março, a convite do Sindicato dos Jornalistas do Estado do Amazonas, para ministrar um curso na área de Jornalismo e Meio Ambiente, fazer uma série de reportagens com os índios ianomâmis e, se tiver chance, voltar ao Pará, onde pretende retomar o caso Paiakan. Este mês, algumas das suas produções nessa incursão pela Amazônia estarão nas páginas da revista National Geographic, pertencente à sociedade National, e na TV, no programa que leva o mesmo nome. Esse repórter que chegou ao Peru na década de 70 e atuou como alfabetizador de colonos, lamenta a forma como o meio ambiente é tratado pela mídia e condena os "chefes" de redação que ignoram a importância estratégica dessa área. "Como tantos outros, eu tenho filhos e qual é o tipo de mundo que vou deixar para eles?", questiona, revelando a preocupação silenciosa que o acompanha ao olhar a agonia do mundo de agora. Em entrevista a A CRÍTICA, Scott Wallace fala do aprendizado em cobrir conflitos nas Américas Central e do Sul e que entre tantas lições apreendidas uma guarda como princípio: a de que o jornalismo é um bem público e quem decide ser jornalista aceita também a responsabilidade pública de atuar nessa área. A seguir a entrevista:

A CRÍTICA - O que motivou o senhor a buscar o jornalismo como profissão?
SCOTT WALLACE - Segui a carreira de jornalista porque desejava trabalhar na América Latina. Em 1983, quando sai da escola de jornalismo, fui direto para El Salvador, na América Central e, em seguida, para a Nicarágua, em pleno processo da revolução sandinista e tive a oportunidade de cobrir a guerra travada naquela região, trabalhando para a CBS, a revista NewsWeek. E jornais britânicos, o Independence e o Guardian. Nesse mesmo período comecei a conhecer a problemática dos povos indígenas. Antes, no final dos anos 70, tirei um ano da universidade, e viajei para o Peru, onde trabalhei com os colonos, como alfabetizador. Esse foi o primeiro contato que tive e quis voltar. Na Guatemala, presenciei o genocídio que o exército guatemalteco patrocinou contra índios e mestiços. Fiquei na América Central até os anos 90, depois retornei aos EUA, onde passei a escrever reportagens especiais para revistas e a produzir documentários para televisão.

AC - Quando se deu o seu primeiro contato com o Brasil?
SW - Vim ao Brasil em 1992 para cobrir a ECO e no meio da conferência estourou o caso Paikan. Deixei a conferência e passei a investir nessa história. Fui ao Sul do Pará, à reserva indígena, fiquei um mês fazendo investigações, ouvi Letícia, a vítima, as autoridades, pessoas da reserva, madeireiros... Assim se deu a minha primeira experiência com a Amazônia.

AC - Quais as conclusões que o senhor como repórter chegou?
SW - Fiquei um pouco confuso com essa história. Foram muitas as versões sobre o caso e nada estava claro. Tenho precaução em dizer que cheguei a uma conclusão em relação a esse assunto.

AC - O que torna tão difícil a relação jornalista/meio ambiente?
SW - Veja, o jornalista tem que manejar muitas informações, mas não é um cientista. Eu não sou um pesquisador, sou jornalista. Então, um jornalista acaba tendo muitas fontes de informações e a ele compete a tarefa de verificação dessas fontes. Por outro lado, no que se refere ao meio ambiente, há muitas ameaças, muitas coisas para serem explicadas. É um terreno complicado, tem-se que buscar a maior rede de informações, ampliar as fontes sempre... Vai depender também da vontade de cada um que decide seguir essa área em lidar com os conflitos.

AC - O espaço dedicado pela mídia ao tema meio ambiente é suficiente?
SW - Quanto ao Brasil, não posso fazer observações mais aprofundadas porque meu tempo nesse País não foi suficiente para estabelecer parâmetros nessa área. De qualquer forma penso que cabe aos meios de comunicação de massa levantar as questões nessa área para o público. Não se trata de uma questão do tipo o Brasil contra a comunidade internacional. O que tem nas Amazônias é uma riqueza não existente em outra parte do mundo.

(Continua na matéria seguinte.)

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