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Jogos dos povos indígenas terão 1,2 mil participantes

Correio da Bahia-Salvador-BA
Autor: Adriana Jacob
30 de Ago de 2004

Pela primeira vez, a Bahia sediará competição que tem como principal
objetivo fortalecer a cultura nativa

Em vez de piscinas, o mar. Em vez de quadras com infra-estrutura
moderna, a terra cercada pelas árvores. Em vez de uma cerimônia de
abertura cheia de efeitos especiais, uma apresentação repleta de
rituais de mais de 50 etnias diferentes. Em vez de medalhas de ouro,
prata e bronze, uma premiação simbólica, igual para todos os
participantes, que representa verdadeiro o objetivo da competição: o
intercâmbio cultural. Entre os dias 20 e 27 de novembro a Bahia vai
sediar, pela primeira vez, os VII Jogos dos Povos Indígenas. Muito
mais do que uma competição esportiva em que, muitas vezes, fala mais
alto a vaidade de cada atleta, o que estará em jogo para os mais de
1.200 participantes é a reafirmação de uma cultura que luta, há 500
anos, para se manter viva.

"Estávamos acostumados a competições em que o que importava era o
rendimento, ganhar, ganhar e ganhar, então resolvemos criar esses
jogos como uma forma de fortalecer nossa cultura e nos alegrarmos",
afirma o coordenador dos Jogos dos Povos Indígenas na organização não- governamental Comitê Intertribal, Carlos Terena, ele mesmo um dos
criadores dos jogos, em 1996. O mais difícil, explica ele, foi
coordenar indígenas de etnias, costumes, línguas e grau de
aculturação diferentes. "Há desde os pataxós, na Bahia, com mais de
500 anos de contato com os não-índios, até os matis, da Amazônia, com
apenas 20 anos de contato", diz, revelando que a data dos jogos será
confirmada na próxima semana.

Além dos índios de 50 etnias brasileiras, que vão entrar em ação nos
jogos, indígenas de outros países devem vir assistir as competições,
como aconteceu nas edições anteriores. "Já confirmaram presença
índios da Guiana Francesa e de outros países da América Latina. É
possível que venham também indígenas do Canadá, Estados Unidos,
Austrália e Nova Zelândia, que já mantiveram contato conosco",
afirmou o coordenador dos Jogos Indígenas na Secretaria de Trabalho e
Ação Social (Setras), José Olympio Neto. Realizados desde 1996, os
jogos são uma iniciativa do Ministério do Esporte e contam com o
apoio do governo do estado da Bahia, Fundação Nacional do Índio
(Funai) e da Fundação Nacional de Saúde (Funasa), além da ong Comitê
Intertribal.

Nos oito dias dos jogos, serão disputados esportes como a corrida de
tora, modalidade disputada por homens e mulheres. Trata-se de uma
espécie de corrida de revezamento com dez índios em cada equipe. Na
disputa masculina, cada índio corre por 400m carregando uma tora de
90kg, que é passada ao próximo companheiro de equipe. Na disputa
feminina, as mulheres correm com uma tora mais leve, de 50kg.

Outro esporte é o arremesso de tacape, no qual os baianos da tribo
pataxó têm uma certa tradição, já tendo conquistado boas colocações
nas edições anteriores dos jogos. Um dos destaques é o índio Benedito
Braz, o Loro, que conquistou o 3o lugar nos jogos de 2002, em Marabá,
no Pará. "Consegui atingir uma distância de 41m com o tacape", diz
ele, explicando que ganha a prova quem conseguir alcançar a maior
distância com o arremesso. "Estamos aqui há 504 anos, perdendo o
contato com outros índios e nossa cultura está um pouco adormecida,
então este é um evento muito importante pra resgatar a nossa
cultura", afirmou.

Estrutura especial vai ser montada

Para a realização dos Jogos dos Povos Indígenas - que já foram
realizados em cidades como Campo Grande (MS) e Palmas (TO) -, uma
estrutura especial será montada perto da Reserva da Jaqueira. Para a
disputa de provas como o arco e flecha, o arremesso de tora e o cabo
de guerra, uma arena especial será construída, com direito à
arquibancada para que o público acompanhe de perto cada momento. Mas
essa arena não deve lembrar em nada os estádios esportivos: ficará
entre as árvores, sem cobertura e com piso de terra e areia. As
provas de atletismo vão ser realizadas numa estrada de terra.

Já as provas de natação e canoagem, serão disputadas no mar. "Vai ser
interessante porque há índios que não conhecem o mar", diz José
Valério Matos. As acomodações dos atletas e de suas famílias - já que
muitos participantes viajam com pais, irmãos e parentes - estão
recebendo atenção especial da organização. Serão construídas 40 ocas
ao redor da reserva. "Cada etnia vai ficar em sua oca", explica o
administrador da Funai em Porto Seguro.

Em paralelo aos jogos, há a previsão de serem realizados simpósios
sobre antropologia e meio ambiente, além de seminários de intercâmbio
cultural, segundo o coordenador dos Jogos Indígenas na Setras, José
Olympio Neto. "Também vai ser realizado o VII Encontro Nacional das
Tribos Jovens", afirma José Olympio.

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