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João Gonçalves, um cacique sem tribo

Diário Catarinense-Florianópolis-SC
Autor: DARCI DEBONA
21 de Mar de 2003

Um cacique sem tribo e sem emprego. Nesta situação inusitada vive João Gonçalves Min, 40 anos, que mora com a mulher e cinco filhos num bairro de Chapecó. Ele foi cacique durante sete anos, entre 1991 e 1998, na aldeia Kaingang de Toldo Pinhal, em Seara.

Foi ele quem reuniu e conduziu sua comunidade para a conquista e demarcação dos atuais 893 hectares da aldeia de Toldo Pinhal. O cacique lembra que a comunidade estava espalhada na periferia de municípios como Seara, Abelardo Luz, Arvoredo e Itá. Ele reuniu documentos que comprovavam a presença histórica de seus antepassados na região e, juntamente com outras famílias, montou acampamento na área em disputa com agricultores. Ocorreram ameaças, funcionários públicos viraram refém e muita briga jurídica até conquistarem a área, em 1997.

O cacique disse que tentou implementar um sistema de produção e autonomia da comunidade, que não foi bem aceito. Disse que produzia mil sacas de milho, tinha 60 suínos, arroz, madioca e implementos. Ele afirmou que foi acusado injustamente de ganhar dinheiro em cima da população indígena e foi afastado por decisão da comunidade. Min declarou que algumas pessoas "fizeram a cabeça da comunidade" e ele acabou amarrado e levado para a aldeia de Ipuaçu. Ele passou alguns dias em Ipuaçu e depois foi morar em Chapecó.

Gonçalves Min trabalhou como auxiliar e servente de pedreiro em uma empreiteira até novembro, quando cessaram as obras do esgoto sanitário de Chapecó. Agora, está tentando trabalhar numa agroindústria e voltando a estudar (tem até a sexta série). A maior dificuldade é com o inglês. "Isso não é para índio".

O cacique ainda pensa em voltar para a aldeia. Sua mulher, Terezinha Alves, queria ir para o Toldo Chimbangue, em Chapecó. Ela não se adapta ao sistema de não poder cultivar sua língua e seus costumes, como o artesanato. "Na cidade tem que comprar tudo", reclamou.

Mesmo assim ela preserva traços da culinária, como o "bolo índio". Min disse que por enquanto quer ver os filhos bem empregados. Um trabalha numa agroindústria e outro em um posto de lavação. Mas o sonho é voltar a ser cacique

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