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Isolados no Pantanal, militares guardam o território nacional

Correio do Estado (MS) - http://www.correiodoestado.com.br
Autor: Sílvio Andrade
05 de Ago de 2011

Ocupação, vigilância e reconhecimento da fronteira são as missões de um grupo especial de 15 militares que guarnece o território nacional na linha imaginária com a Bolívia, ao norte de Corumbá. Eles vivenciam uma experiência única de vida, que passa pelo patriotismo, disciplina, abdicação de conforto pelo isolamento implacável no meio do Pantanal e espírito selvagem, ao lado das mulheres e filhos.

Estes homens verde-oliva atuam no Porto Índio, destacamento do Exército encravado em lugar ermo da planície pantaneira, onde se chega apenas pelo ar ou água. Região privilegiada pela natureza, cercada por grandes lagoas (Gaíva e Uberaba) e a morraria da Serra do Amolar, distante 270 quilômetros fluviais da cidade. Uma ilha onde se deu também o reencontro dos índios guató.

A definição de carreira militar dada pelo general Octávio Costa, ex-expedicionário na Itália e personagem relevante em momentos históricos do processo de redemocratização do país, sintetiza a realidade em Porto Índio. Segundo o ex-militar, a farda "não nos exige as horas de trabalho da lei, mas todas as horas da vida, nos impondo também nossos destinos". No destacamento, se vive o Exército 24h.

"Não se trata de uma ação militar, simplesmente", explica o coronel Marcelo Dutra de Oliveira, porto-alegrense, 44, comandante do 17 Batalhão de Fronteira, ao qual Porto Índio está subordinado. "A família tem seu papel fundamental nesse processo de convivência para preencher espaços, gerar ânimo, trabalho e superar a sensação do isolamento. O destacamento é o início e não fim da linha", sintetiza.

Big Brother

Atualmente, 13 famílias de militares ocupam a vila, que fica às margens do canal D. Pedro II, de frente para a Bolívia, sob o comando do terceiro sargento Narciso Carmo de Arruda, corumbaense de 41 anos. Dois militares vivem com suas famílias em outra unidade próxima, a Bela Vista do Norte. Hoje o destacamento tem energia elétrica em tempo integral, telefone e internet, ainda restrita ao comandol.

"É um big brother sem paredão", define o coronel Dutra, que se apaixonou pelo lugar e tem se esforçado para melhorar a estrutura daquela fração do Exército. "Estamos procurando dar condições mínimas para garantir a única presença do Estado numa faixa de fronteira que se estende pelo Pantanal", ressalta ele. "A vigilância estratégica é o cerne da missão, e precisa ser reconhecida."

Ilha Ínsua

O destacamento foi criado em junho de 1979 em um lugar histórico. No período colonial, quando a província de Mato Grosso era governada pelo capitão-general Luiz de Albuquerque de Melo Pereira e Cáceres, foi um ancoradouro e pouso de canoas que operavam entre Cáceres (MT) e Corumbá. A ilha ganhou o nome de Ínsua em referência ao solar dos pais de Pereira e Cáceres em Portugal.

Peculiaridades da região

A garantia da soberania na fronteira Oeste com um país amigo não se resume a um patrulhamento corriqueiro aos oito marcos de concreto que separam Brasil e Bolívia, em água ou terra. A região tem suas peculiaridades especiais, que exigem vigilância permanente, principalmente agora que o Exército ganhou poder de polícia. A rotina da tranqüila vila militar é quebrada quando menos se espera.

Por ali os bolivianos contrabandeiam pedras semipreciosas - em 2010 uma embarcação afundou entre a Lagoa Gaíva e a RPPN Acurizal com 35 toneladas de ametista. No início desse ano os militares do Porto Índio prenderam dois traficantes do vizinho país com meia tonelada de cocaína, após queda de um avião na Serra do Amolar, numa ação articulada com a Polícia Federal.

A presença do destacamento também tornou-se uma base de apoio, sempre alerta para atender aos ribeirinhos, aos índios guató e aos turistas que vão à região em busca do peixe farto naquelas águas sem limites. "É um ponto de apoio e de confiança até do povo boliviano", cita o coronel Dutra. Os militares prestam primeiros socorros e há casos de deslocamentos de feridos para Corumbá.

Um dos fatos mais dramáticos ocorreu durante o comando do sargento Bezerra, ano passado, quando um turista, vereador em Campo Grande, teve uma crise aguda de próstata e corria risco de morte. Era início de noite e os militares sinalizaram o aeródromo com tochas para que um avião pousasse para resgatar o doente até Corumbá. "Foi uma operação cinematográfica", lembra o sargento.

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