VOLTAR

Irei a Paris para dizer ao mundo que vamos punir os responsáveis

O Globo, Sociedade, p. 32
Autor: TEIXEIRA, Izabella
26 de Nov de 2015

'Irei a Paris para dizer ao mundo que vamos punir os responsáveis'
Ministra Izabella Teixeira diz que Brasil terá destaque na COP, mesmo após desastre em Mariana

Catarina Alencastro

BRASÍLIA - A três dias de embarcar para Paris, onde participará da Conferência da ONU sobre Mudanças Climáticas (COP-21), a ministra do Meio Ambiente, Izabella Teixeira, disse ao GLOBO que, sozinha, não tem como solucionar os problemas causados pelo rompimento da barragem de rejeitos de minério em Mariana. Ela também afirmou que, apesar estar vivendo o maior desastre ambiental de sua história, o Brasil exercerá um papel de destaque nas negociações.
Ambientalistas que acompanham as consequências do desastre em Mariana afirmam que as ações do poder público estão descoordenadas. Isso é verdade?
Não tenho informes de "bateção de cabeça''. Tem muita gente atuando em várias frentes. Os trabalhos não estão restritos ao atendimento às vítimas, à questão das outras barragens. Temos uma multiplicidade de atores e uma diversidade de ações que estão sendo avaliadas. Isso não é algo trivial, fácil de ser feito. Cada hora aparece uma notícia, cada hora alguém diz alguma coisa. Tem muita notícia contraditória. O acidente ainda está vivo.
Se o acidente ainda está vivo, não é um mau momento para a senhora sair do país?
A coordenação das ações (referentes ao acidente) não depende só de mim. Tenho um vice-ministro que vai coordenar isso, tenho os presidentes do Ibama, do Instituto Chico Mendes, da Agência Nacional de Águas... Ninguém que trabalha para instituições ambientais que têm algum tipo de ligação com o acidente vai a Paris. Todo o staff do ministério permanecerá aqui. Só eu vou, chefiarei a delegação depois que a presidente Dilma Rousseff deixar Paris, não tenho como deixar de ir... Estarei acompanhando tudo de lá, inclusive vou me encontrar com Sebastião Salgado e terei uma reunião de trabalho na França sobre o desastre. Acho que as pessoas agem como se eu pudesse resolver o acidente sozinha. Nada parou, e estou trabalhando desde o primeiro dia da tragédia. Acham que a gente não está trabalhando? Eu trabalho o tempo inteiro, sábado, domingo...
A senhora planeja ficar duas semanas em Paris?
Terei de permanecer durante todo o tempo de negociações. Serei a chefe da delegação brasileira. E como o governo francês convocou a reunião política para o início da conferência, quebrando a tradição de promover os debates do segmento ministerial apenas na segunda semana do evento, eu terei de estar lá desde o início.
Por que foi tomada essa decisão de passar para o primeiro dia a reunião de chefes de Estado e ministros?
Porque o governo francês acha que tem de evitar o que aconteceu em Copenhague (onde foi realizada, em 2009, uma das conferências mundiais sobre o clima), quando os chefes de Estado chegaram no final do evento e simplesmente não houve acordo, já que todo mundo ficou esperando os líderes globais. Então, os organizadores querem reunir o comando político no início da conferência para que todo mundo construa e viabilize um grande acordo.
O Brasil enfrenta a maior tragédia ambiental de sua História. Isso não impedirá que o país assuma um papel de destaque na negociação sobre o clima?
Não. É um acidente. Como, por exemplo, quando ocorre um tsunami. Estamos tratando do problema. Chegaremos lá (em Paris) dizendo que vamos recuperar a bacia do Rio Doce. Nosso trabalho tem de virar um modelo. O Brasil tem um papel de protagonista nas negociações mundiais sobre o clima. Tivemos um desastre ambiental, o maior do mundo no setor de mineração, mas irei a Paris para dizer ao mundo que vamos resolver isso e punir aqueles que foram os responsáveis pelo que aconteceu.

O Globo, 26/11/2015, Sociedade, p. 32

http://oglobo.globo.com/sociedade/sustentabilidade/irei-paris-para-dize…

As notícias aqui publicadas são pesquisadas diariamente em diferentes fontes e transcritas tal qual apresentadas em seu canal de origem. O Instituto Socioambiental não se responsabiliza pelas opiniões ou erros publicados nestes textos. Caso você encontre alguma inconsistência nas notícias, por favor, entre em contato diretamente com a fonte.