Valor Econômico, Opinião, p. A14
01 de Out de 2013
IPCC reafirma urgência de ações contra aquecimento
Enquanto os compromissos políticos para deter o aquecimento global foram se liquefazendo nos últimos anos, especialmente após o fracasso da Conferência do Clima de Copenhague, a deterioração das condições climáticas prossegue e suas consequências sobre a vida no planeta se intensificam. O novo relatório do Painel Intergovernamental sobre Mudanças Climáticas, divulgado na sexta-feira, mostra uma piora das estatísticas sobre o assunto em relação ao estudo anterior, de 2007.
O ceticismo a respeito da influência humana nesse aquecimento cresceu depois das trapalhadas do IPCC e da constatação de que a temperatura global evoluiu com menor velocidade nos últimos 15 anos. A reação era esperada e o relatório do IPCC cerca-se de mais cuidados e de mais dados para apontar que agora existem 95% de probabilidades de que a deterioração climática seja produzida pelo homem. Para os cientistas do painel, muitas das mudanças observadas desde 1950 "não têm precedentes ao longo de décadas e milênios".
O parêntesis do menor ritmo de aumento de temperatura nos últimos 15 anos não influenciará muito o argumento dessa história nem o seu presumível final. Para os especialistas ligados ao IPCC, esse é um período muito curto no qual se basear uma conclusão de peso. Além disso, com metodologia mais sofisticada, argumentam que a temperatura do ar pode não ter se acelerado ao ritmo previsto - ela não parou de crescer - porque a temperatura dos oceanos se elevou, um outro sintoma perigoso do mesmo fenômeno.
A coleta sistemática de dados e seu aperfeiçoamento dão maior certeza de que as catástrofes estão à vista e podem ser evitáveis - até agora, marcha-se diretamente para elas sem que medidas vitais para evitar um sombrio desfecho tenham sido tomadas. O desequilíbrio da natureza tornará a vida humana um inferno, se as previsões mais pessimistas se concretizarem. Em um ambiente de desleixo quanto à prevenção das emissões de gases que provocam o efeito-estufa, o planeta estará em 2100 até 4,8 graus centígrados mais quente do que agora. Em um cenário intermediário, em que o volume de CO2 dobra até 2060 e recua a uma velocidade inferior à atual, o aumento da temperatura no fim do século será superior a 2 graus. O preferível diante das circunstâncias, que tem se mostrado mais difícil politicamente, é que as emissões atinjam seu pico em 10 anos e sejam zeradas em 50 anos. Nessas condições, a temperatura global chegaria perto, mas não atingiria, o limiar dos 2 graus a partir dos quais as consequências das mudanças climáticas se tornariam mais graves.
Com o aquecimento global, a frequência de eventos extremos como tornados, chuvas intensas, maremotos etc tende a ser maior. O nível dos oceanos está subindo pelo derretimento do gelo dos círculos polares. No Ártico, de 1979 a 2012, o IPCC aponta uma diminuição de 3,5% a 4,1% por década no inverno e na Antártida, de 1,2% a 1,8%. De 1901 a 2010, o nível do mar subiu 19 centímetros. A perspectiva mais otimista do painel é de uma elevação de 26 centímetros e a mais pessimista, de 98 centímetros até 2100.
A elevação do nível dos oceanos é apenas um dos efeitos. O aumento da temperatura dos mares os torna menos aptos a absorver o CO2 da atmosfera e sua acidificação torna hostil a vida a milhares de espécies marinhas.
O IPCC prevê, com isso, que haverá mais e maiores secas na Africa Ocidental e na região do Mediterrâneo e mais ciclones no Atlântico Norte e Pacífico, por exemplo. Os cientistas brasileiros apontam para secas ainda mais devastadoras no Nordeste e chuvas torrenciais no Sudeste.
O calendário político, até agora isolado do calendário climático, indica tentativas de um novo acordo a ser obtido em 2015, na Conferência do Clima em Paris. A proposta do líder da Organização das Nações Unidas, Ban Ki-moon, se aceita, poderia dar um pouco mais de urgência a esse cronograma. Para além das CoPs de Varsóvia (2013) e Lima (2014), sugeriu uma grande conferência em setembro de 2014 em Nova York, onde se amarraria o maior consenso possível sobre o que seria definido em Paris no ano seguinte. Como as últimas conferências foram desanimadoras, não é de se prever que continue a faltar urgência política no tratamento do tema. Ela continua voltada, como está desde 2008, para o fim da crise econômica nos países desenvolvidos - essa sim, sem dúvida, provocada pelos homens.
Valor Econômico, 01/10/2013, Opinião, p. A14
http://www.valor.com.br/opiniao/3289210/ipcc-reafirma-urgencia-de-acoes…
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