VOLTAR

Investigação do apagão deve levar meses

O Globo, Economia, p. 27
23 de Mar de 2018

Investigação do apagão deve levar meses
Operador Nacional do Sistema apresentará relatório inicial em dez dias sobre blecaute que afetou 70 milhões

MANOEL VENTURA, DAIANE COSTA, BRUNO ROSA RAMONA ORDOÑEZ economia@oglobo.com.br

-BRASÍLIA E RIO- O Operador Nacional do Sistema (ONS) pretende apurar em cerca de dez dias as causas do apagão que deixou cerca de 70 milhões de pessoas sem energia elétrica no Norte e no Nordeste anteontem, com falhas que atingiram também outras áreas do país. A partir do relatório, a Agência Nacional de Energia Elétrica (Aneel) avaliará responsabilidades da concessionária responsável pela linha de transmissão que transporta energia da usina hidrelétrica de Belo Monte, no Pará, para o Sudeste. Essa análise, segundo a agência, pode levar meses.
A concessionária Belo Monte Transmissora de Energia (BMTE) e o ONS informaram que a falha responsável pelo blecaute aconteceu num disjuntor da subestação de Xingu, que integra a linha inaugurada em dezembro do ano passado. Uma reunião na próxima segundafeira, na sede do ONS, no Rio, é que vai definir os rumos da apuração. Só depois do relatório do órgão a Aneel vai avaliar se abre um processo contra a concessionária. A empresa só será punida se as causas do problema estiverem ligadas ao descumprimento de normas regulatórias. A concessionária é controlada pela chinesa State Grid, mas tem a Eletrobras como sócia.
- Se foi falha humana vamos informar. Se for de equipamento também. Não haverá nenhum tipo de sombra sobre o que ocorreu, pois somos os maiores interessados em dar transparência para manter a confiança da população - disse ontem Luiz Eduardo Barata Ferreira, diretor-geral do ONS, que voltou a chamar o sistema brasileiro de "robusto".
Autoridades do setor elétrico também querem saber porque o mecanismo de proteção automático do sistema de energia Norte-Nordeste não entrou em ação quando houve o problema na subestação Xingu.
FALTA PREVENÇÃO
O ministro de Minas e Energia, Fernando Coelho Filho, também defendeu ontem a segurança do sistema e atribuiu o apagão a um "erro de programação". Segundo Nivalde de Castro, coordenador do Grupo de Estudos do Setor Elétrico (Gesel), do Instituto de Economia da UFRJ, já era esperado o aumento da carga da energia na linha em razão da maior geração de eletricidade na Usina de Belo Monte. Por isso, ele acredita que a falha foi causada por um problema técnico:
- Pelos dados já disponíveis, trata-se de um problema técnico, pois o disjuntor não conseguiu suportar o aumento da carga. Esse tipo de problema deveria ter sido previsto. Como o sistema de transmissão está aumentando no Brasil, o ONS vai aprender com o que ocorreu e melhorar o nível de exigência técnica
Para Franklin Miguel, professor do MBA do setor elétrico da Fundação Getúlio Vargas (FGV), o ideal seria aumentar o investimento em circuitos alternativos, que funcionem como uma espécie de reserva quando o sistema principal tem problemas:
- Não havia um sistema capaz de manter tudo de pé após o problema no disjuntor. Além disso, o sistema de energia precisa investir mais nas interligações entre as regiões do país.

O Globo, 23/03/2018, Economia, p. 27

As notícias aqui publicadas são pesquisadas diariamente em diferentes fontes e transcritas tal qual apresentadas em seu canal de origem. O Instituto Socioambiental não se responsabiliza pelas opiniões ou erros publicados nestes textos. Caso você encontre alguma inconsistência nas notícias, por favor, entre em contato diretamente com a fonte.