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Invasores desocupam obra no São Francisco

OESP, Nacional, p. A13
05 de Jul de 2007

Invasores desocupam obra no São Francisco
Contra transposição, sem-terra e índios invadiram área em PE dia 26

Tiago Décimo

Em cumprimento a ordem judicial de desocupação, os últimos 500 manifestantes deixaram ontem a Fazenda Tucutu, a cerca de 18 quilômetros de Cabrobó, no sertão Pernambucano. A área, onde o Exército começou as obras de transposição das águas do Rio São Francisco, foi invadida na terça-feira da semana passada por índios e movimentos contrários ao projeto.

Por volta das 7 horas, os manifestantes - a maioria do Movimento dos Sem-Terra (MST) e de tribos da região - receberam a ordem expedida pelo juiz Giorgius Argentini, da 20ª Vara Federal. Após uma reunião, eles decidiram desmontar o acampamento e sair pacificamente. A desocupação foi acompanhada por 40 policiais federais, 40 agentes da Força Especial da Polícia Militar e 50 homens de defesa pública, entre soldados, policiais rodoviários e bombeiros.

Um grupo de 150 índios - a maioria da tribo truká, que reivindica a posse da área -, saiu do local e promoveu uma marcha pela BR-425, em protesto contra a obra. Ornados com pinturas de guerra e portando faixas, eles bloquearam meia pista da estrada e entoaram palavras de ordem contra o governo.

"Resolvemos deixar pacificamente a área para mostrar ao governo e à sociedade o que é a democracia e o respeito à Constituição e às leis", desabafou, desanimado, o cacique dos trukás, Aurivan dos Santos Barros. Houve tensão quando o grupo passou pela base do Exército na região, em um posto de combustíveis desativado. Os índios ameaçaram atacar o local, mas soldados, com metralhadoras e fuzis, evitaram o conflito.

A passeata prosseguiu mais 10 quilômetros, até um assentamento. De acordo com o cacique, os índios passariam a noite acampados, deliberando sobre as próximas manifestações. "Estamos muito cansados, mas nossa luta não acabou", afirmou. "Depois de descansar, vamos nos reunir para decidir como vamos seguir a luta por aquela terra, que é nossa."

De acordo com o comando local do Exército, as obras naquela área, que fazem parte do Eixo Norte da transposição - ligarão o leito do São Francisco a áreas no interior de Pernambuco, Paraíba, Rio Grande do Norte e Ceará - devem ser retomadas hoje, após uma vistoria.

ARRASTÃO

Assaltantes aproveitaram a mobilização de policiais para a desocupação da fazenda e tentaram promover um arrastão na saída de Cabrobó, por volta do meio-dia. A ação durou pouco: a polícia foi avisada e o helicóptero que dava apoio aos agentes na desocupação foi deslocado para localizar os assaltantes. Segundo a Polícia Civil, dois caminhoneiros foram assaltados.

"Eles bloquearam a pista, apontando armas para a gente", contou o caminhoneiro Vanderlei Rangel Sussi, que teve o celular, o relógio e R$ 80 levados pelos assaltantes.

Do outro lado de Cabrobó, sentido Paulo Afonso (BA), policiais rodoviários federais aproveitaram o intenso movimento para faturar. Eles paravam todos os veículos que passavam pelo posto-trailer da BR-316, nos dois sentidos - inclusive o da reportagem do Estado.

Sem inspecionar nenhum documento, eles indagavam: "É autoridade civil ou militar?" Se a resposta era negativa, pediam uma ajuda, para "comprar um refrigerante bem gelado". O comerciante José Paulo Farias, de 43 anos, lamentou: "Já dei tanto dinheiro para eles que, quando passo por ali, já me chamam pelo nome."

Bolsa é insuficiente para Nordeste, diz Sachs

Jamil Chade

O Bolsa-Família não será suficiente para o desenvolvimento do Nordeste. A avaliação é de Jeffrey Sachs, economista e representante da Organização das Nações Unidas (ONU) para as estratégias de luta contra a pobreza. "O Brasil precisa dar uma resposta ao Nordeste, mas não apenas colocando as crianças na escola ou dando uma ajuda individual. Isso pode ter certo sucesso por algum tempo, mas não é a estratégia adequada para o médio e longo prazos."

Sachs, da Universidade de Columbia, foi nomeado como representante do secretário-geral da ONU, Ban Ki-Moon, para estabelecer estratégias que possam ajudar os países a lutar contra a pobreza, a fome e a falta de educação.

Em 2000, a ONU estabeleceu como meta a redução da pobreza e da fome pela metade até 2015. Ontem, Sachs debateu com governos de todo o mundo a estratégia em uma conferência em Genebra. Segundo ele, o governo brasileiro deve considerar que a solução para a pobreza não pode se limitar ao Bolsa-Família.

"Dar uma renda individualmente a uma família pode ser positivo, mas não terá resultados estruturais que dependerão de outros fatores", afirmou. "O Brasil precisa estabelecer planos regionais para garantir melhor infra-estrutura, para lidar com o problema de cada local. Minha tese é simples: a prioridade deve ser o Nordeste, com um amplo plano de irrigação e melhoria das condições das cidades."

OESP, 05/07/2007, Nacional, p. A13

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