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Invasores de Tucuruí queimam veículos

OESP, Nacional, p. A15
07 de Dez de 2007

Invasores de Tucuruí queimam veículos
Integrantes do MAB, no local desde quarta, cobram indenização maior

Carlos Mendes

Dois tratores, um ônibus e um caminhão foram queimados por 300 integrantes do Movimento dos Atingidos por Barragens (MAB), que ocupam desde anteontem o canteiro de obras das eclusas da hidrelétrica de Tucuruí, no Pará. Eles cobram da estatal Centrais Elétricas do Norte (Eletronorte) o pagamento de indenizações para cem famílias que, embora já tenham deixado suas casas para a execução da obra, nada receberam.

Os invasores também reivindicam o pagamento do seguro-defeso - espécie de bolsa paga às famílias de pescadores da região no período de reprodução dos peixes, quando ficam impedidos de exercer suas atividades - e pensão vitalícia para os que perderem seus meios de subsistência.

Ontem, no local da obra, o clima era de tensão. Os invasores ameaçavam destruir outros 16 veículos, caso a Eletronorte não negociasse com os líderes das famílias.

A empresa, cujos advogados já apresentaram à Justiça um pedido de liminar de reintegração de posse, não quis se manifestar sobre a destruição dos veículos. Segundo seus assessores, até ontem a Eletronorte não tinha recebido nenhuma lista de reivindicações. Eles também disseram que a invasão não prejudica a produção de energia elétrica.

ACUSAÇÃO

O motivo real da disputa entre o MAB e a Eletronorte não é a falta de pagamento das indenizações, mas a ausência de um acordo sobre os valores. As famílias não aceitam as quantias propostas, entre R$ 4 mil e R$ 15 mil, e querem aumentar para aproximadamente R$ 60 mil.

Ontem, a coordenadora do movimento, Euvanice Furtado, acusou a Eletronorte de fugir à sua responsabilidade: "A empresa não compareceu para conversar nem mandou representante." Ela teme que os invasores fiquem ainda mais revoltados e destruam outros bens.

Em nota oficial, o MAB disse que o acordo firmado entre as famílias, o governo federal e a Eletronorte teria sido desrespeitado: "Prometeram várias coisas. Mas a única cumprida, e com atraso, foi a entrega de cesta básica. Serão quatro e já na primeira eles demoraram a entregar. Cansamos de esperar."

O pescador Martins Filho, um dos invasores, disse que ele e sua família enfrentam dificuldades para sobreviver: "A situação está muito difícil, porque não pagaram o seguro."

REPETIÇÃO

Esta é a terceira vez no ano que manifestantes ligados ao MAB realizam invasões em Tucuruí. A mais grave delas ocorreu em maio, quando a sala de controle e a casa de máquinas da hidrelétrica foram ocupadas, pondo em risco o abastecimento de energia na região.

Por ordem do presidente Luiz Inácio Lula da Silva, o Exército e a Polícia Federal deslocaram efetivos para a região, com o objetivo de desocupar o local. Um dos líderes do MAB chegou a brincar na ocasião, fingindo, diante de câmeras de televisão, que apertaria um dos botões de controle de funcionamento da hidrelétrica.

Em outubro o MAB invadiu o canteiro de obras das eclusas - o mesmo que voltou a ser ocupado agora. O movimento também quer impedir a continuidade dessa obra, cujo objetivo é possibilitar a navegabilidade do Tocantins para o escoamento de minérios de ferro para exportação. "Vai servir para o saqueamento dos recursos naturais do Pará", disse Euvanice. Colaborou Roldão Arruda

OESP, 07/12/2007, Nacional, p. A15

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