VOLTAR

Invasores da terra Xavante fazem Barricada para barrar comissão em defesa dos direitos humanos

CIMI-São Felix do Araguaia-PA
19 de Ago de 2004

Inconformados com a decisão do Supremo Tribunal Federal (STF), que concedeu no último dia 10 o direito ao povo Xavante de retornar à sua terra original, Marãiwatsedé, um grupo de fazendeiros e políticos da região de São Félix do Araguaia, no Mato Grosso, organizaram protesto e fecharam ontem a tarde a rodovia BR 158 que dá acesso a terra indígena.

Liderados pelo atual prefeito, Mario César Barbosa de Alto da Boa Vista - município onde se localiza parte da terra Xavante - e o fazendeiro Dagmar Falheiros, candidato à prefeitura da mesma cidade, o os invasores da terra indígena exigem a saída dos índios da terra e criticam a atuação da Prelazia de São Félix do Araguaia, da Fundação Nacional dos Índios (Funai) e de ONG's em defesa dos direitos indígenas.

O momento escolhido para o fechamento da rodovia não é por acaso. A barricada erguida na BR 158 tem como objetivo impedir o relator nacional para o Direito Humano ao Meio Ambiente, Jean-Pierre Leroy, que esteve ontem visitando o povo Xavante, continue a viajem que seguiria para visitar grupos de atingidos por barragens, no município de Chapada dos Guimarães.

A visita do relator tem apoio do programa de voluntários da Organização das Nações Unidas (ONU). O relator recebeu dos Xavante denúncias de violações de direitos humanos que servirão de base para o relatório anual da ONU.

Segundo a Funai da região, as maiores dificuldades enfrentadas pelos Xavantes está na falta de comida, poucas condições para o plantio e na reconstrução da aldeia. "Apesar da reconquista da terra, falta praticamente tudo, este é um cenário de terra arrasada", afirma Leroy concordando com a avaliação da Funai.

Além de denunciar as péssimas condições em que vivem hoje, o cacique Damião Xavante anunciou durante a reunião com o relator a decisão do seu povo de não abrir mão dos 20 mil hectares da terra indígena ainda ocupado pelos invasores. "Destruíram nossa mata, acabaram com a nossa terra. Agora daremos um mês para que os invasores saiam, antes de retomarmos o que é nosso", sentenciou Damião.

O povo Xavante foi deportado da terra Marãiwatséde em aviões da Força Aérea Brasileira em 1966, quando a terra passou a ser explorada pelo fazendeiro Ariosto da Riva. Ao longo destes 38 anos, a terra mudou de proprietários, até que em 1992 o Estado brasileiro passou a reconhecer a terra como de posse definitiva dos índios.

Para D. Pedro Casaldáliga, concessões e acordos preocupam

Depois da vitória parcial do povo Xavante no Supremo Tribunal Federal (STF), que lhes deu o direito de retornar a sua terra original, Marãiwatséde, os precedentes de concessões e acordos sobre as terras indígenas feitos entre latifundiários e Governo Brasileiro é considerado por um dos principais apoiadores históricos da luta dos índios da região, o Bispo da Prelazia de São Félix do Araguaia, Dom Pedro Casaldáliga, como a maior preocupação neste momento.

"Vendo a diminuição da terra indígena Baú, do povo Kayapó, no Pará e conhecendo a maneira como o governo trata a homologação da terra indígena Raposa Serra do Sol, imagino que qualquer defensor da causa indígena se sinta muito preocupado com a maneira como a questão indígena vem sendo tratada pela pol´tica indigenista oficial", afirma D. Pedro.

D. Pedro considera a decisão do STF sobre a terra Marawatséde "salomônica", pois permiti a volta dos índios a sua terra, mas não ordena a saída dos invasores, sem resolver de maneira definitiva o problema mais imediato, que é o conflito.

Por outro lado, a força econômica e política dos grupos antiindígenas são a base da preocupação de D. Pedro, que argumenta "fazer negociação às custas dos direitos indígenas, no fim acaba sempre sendo a política de concessão ao latifúndio"

Para o bispo da Prelazia de São Félix do Araguaia, na condução da política indigenista oficial, os interesses econômicos não devem se sobre pôr ao direito constitucional dos índios, "por causa da força agronegócio. O Agronegócio capitalista e neoliberal, que traz concentração de terra, poluição veneno e desmatamento, é o inimigo número um dos povos indígenas. Porque os povos indígenas não são do negócio, não são das divisas financeiras, são da "produtividade" capitalista. Por isso, a gente se sente com bastante receio frente à política indigenista oficial".

As notícias aqui publicadas são pesquisadas diariamente em diferentes fontes e transcritas tal qual apresentadas em seu canal de origem. O Instituto Socioambiental não se responsabiliza pelas opiniões ou erros publicados nestes textos. Caso você encontre alguma inconsistência nas notícias, por favor, entre em contato diretamente com a fonte.