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Inútil

O Globo, Opinião, p. 7
Autor: KLABIN, Israel
22 de Dez de 2008

Inútil

Israel Klabin KLABIN

As propostas de Barack Obama, futuro presidente dos Estados Unidos, com relação ao clima nos abrem uma janela de esperança. É admirável que os Estados Unidos, de uma atitude passiva, tornaram-se o proponente objetivo, claro e conciso de uma proposta eficaz para evitar a destruição do nosso planeta como nós o conhecemos.
Enquanto isso, ficamos nós a reboque da dialética inútil das propostas de contenção do desmatamento e da falta de prioridade para o único assunto de fundamental importância que supera, inclusive, os efeitos da crise econômica que é o impacto das mudanças climáticas na nossa sobrevivência como espécie.
O Brasil perde por não ter sido capaz, até agora, de assumir não só suas responsabilidades como também a co-liderança necessária para a solução do problema.
Graças a Obama, está ficando cada vez mais clara a necessidade de modificação na predominância das fontes de energia baseada em combustíveis fósseis.
Onde ficamos nós?
Somos o segundo maior país detentor de florestas depois da Rússia, e grande parte das nossas emissões advém de desmatamento. Somos um dos quatro países maior detentor de potencial de energia hidráulica. Somos um país com o melhor grau de insolação devido a nossa localização geográfica. Somos um país com 8 mil km de costa, onde o mapa eólico nos indica grande quantidade de vento. Somos um país detentor de gigantesco potencial de produção sustentável de biomassa capaz de nos dar grandes quantidades de energia limpa e renovável.
Enfim, somos um país abençoado na sua Natureza, porém tenho dúvidas com relação ao eficaz uso dessas bênçãos. Temos um ministro de meio ambiente que conhece o assunto e luta para trazer essas mesmas prioridades à tona. Confiamos nele.
O receituário necessário e fundamental para uma co-liderança brasileira nesse esforço global seria:
1. Institucionalizar as promessas vagas do governo de diminuir o desmatamento em um compromisso legal e ligado a um esforço global;
2. Desmatamento evitado e uso da terra representam valores incomensuráveis e que nós devemos colocar na mesa de negociação. O ministro Minc sabe disso muito bem e sabe como fazê-lo;
3. Desenvolver tecnologias adequadas para o uso do nosso potencial hidroelétrico sem afetar o meio ambiente;
4. Financiar e desenvolver pesquisas necessárias e indispensáveis para que os efeitos das emissões oriundas de petróleo e seus derivados sejam cada vez mais livres de efeitos maléficos e de impactos ambientais;
5. Negociar alianças através das quais os países de maior emissão encontrem mecanismos de rápida diminuição de suas emissões. Os sete maiores países emissores representam mais de 70% do total de emissões. Seria mais fácil um acordo preliminar entre esses sete países e, posteriormente, buscar adesão dos outros cerca de 180.
Temos homens competentes. Temos ministros competentes. Temos o apoio da opinião pública. Por favor, vamos assumir o problema com tanto vigor e entusiasmo quanto aquele expresso por Obama na sua plataforma de governo e na escolha de auxiliares competentes.

Israel Klabin é presidente da Fundação Brasileira para o Desenvolvimento Sustentável.

O Globo, 22/12/2008, Opinião, p. 7

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