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Indústria do plástico luta para limpar imagem

OESP, Vida, p. A18
09 de Jun de 2010

Indústria do plástico luta para limpar imagem
Vilão do ambiente, setor aposta mais em marketing do que em tecnologias sustentáveis

Andrea Vialli

Guardadas as proporções, a indústria do plástico vive hoje dilema semelhante ao da indústria do tabaco. De sacolas de supermercado a embalagens, o excesso de plástico passou a fazer parte da vida das pessoas e a acumular em lugares indesejados - entupindo bueiros e causando poluição em rios e mares. De útil, passou a vilão ambiental.
Agora, a indústria do plástico prepara uma ofensiva publicitária e vai mirar a chamada "geração Y", os jovens de 14 a 28 anos, usuários assíduos da internet e presença massiva em redes sociais, como Twitter, Facebook e Orkut.
Nos Estados Unidos, a Society of Plastics Industry (SPI), entidade que representa essa indústria, acaba de lançar uma campanha publicitária de US$ 15 milhões para dizer aos jovens que o plástico em si não é um problema, e sim seu descarte incorreto no ambiente.
"Queremos mostrar que a indústria do plástico não se resume a seu impacto no ambiente. O plástico está presente na medicina, nos computadores. Nem sempre a durabilidade do plástico é ruim", diz William Carteaux, presidente da SPI, que veio ao Brasil divulgar a campanha. A ação terá foco no mercado americano, mas o temor com a reputação preocupa a indústria do plástico no Brasil, que prevê investir R$ 19,3 milhões até 2011 em campanhas para melhorar sua reputação.
Os investimentos, no entanto, não contemplam pesquisas em tecnologias para minimizar os principais problemas relacionados ao material: sua longa permanência na natureza, estimada em 400 anos após o descarte, e o déficit de reciclagem. No caso brasileiro, parte do dinheiro está sendo usada em um programa para melhorar a qualidade das sacolas plásticas distribuídas pelos supermercados e assim, estimular a redução do consumo - todos os anos, os brasileiros utilizam 12 bilhões de sacolinhas.
"Eu não diria que temos uma crise de imagem, mas temos, sim, um problema", reconhece Carteaux. O foco nos jovens não é à toa. As imagens de sacolas plásticas causando enchentes nas cidades ou sendo engolidas por animais correm o mundo via internet, e a indústria quer usar as mesmas plataformas de informação que têm colocado o plástico na mira. "Ambientalistas e ONGs estão usando as redes sociais para promover uma agenda muito específica, contrária ao plástico, mas sem muito embasamento científico", diz.
Bisfenol. Outro desafio que a indústria enfrenta é a crescente resistência a certos tipos de plástico que contêm a substância bisfenol-A (BPA). Usado desde a década de 1960 na produção de mamadeiras, utensílios domésticos e embalagens, a substância contém componentes suspeitos de interferir no funcionamento do sistema endócrino, pois simula a ação do hormônio feminino estrogênio.
No início do ano, a Food and Drug Administration (FDA), agência que controla alimentos e remédios nos EUA, manifestou preocupação em relação aos prejuízos à saúde causados pela substância. Alguns países, como Canadá e Dinamarca, proibiram o químico, bem como vários Estados americanos. No Brasil, a substância é permitida, mas há dois projetos de lei que propõem o banimento do BPA.
Para a psicóloga Vera Rita de Mello Ferreira, especializada em psicologia econômica e consultora de empresas, o investimento em marketing puro e simples não é o melhor caminho para tornar mais positiva a imagem do setor. "Não dá para mudar a imagem sem mudar o comportamento. Para o consumidor, o plástico é um inimigo. Para a indústria, o consumidor é um chato. É preciso quebrar esse padrão de confronto."
Consumo crescente. O consumo per capita de plástico no Brasil é de 28 quilos por habitante ao ano - número que cresce anualmente 6%. O consumo brasileiro ainda está distante do padrão americano, que consome 100 quilos de plástico por habitante/ano. "A verdade é que a indústria do plástico terá de se reinventar, buscar novas formas de reciclar e novas matérias-primas, como os plásticos de origem vegetal", afirma Luiz de Mendonça, presidente da Quattor Petroquímica. Segundo ele, em dez anos, certos produtos de plástico deixarão de ser consumidos, como a sacolinha de supermercado. "Será preciso inovação."

IMAGEM EM RISCO

Poluição
O descarte incorreto é um dos principais problemas das cidades. Sacolas plásticas
entopem bueiros e caem nos rios. O plástico representa 70% do lixo que chega aos
oceanos.

Ciclo de vida
O aumento do consumo de descartáveis tornou o plástico um artigo de uso rápido,
mas de longa permanência na natureza. Um copo descartável é usado em menos de um
minuto, mas, após descartado, permanece cerca de 400 anos no ambiente.

Impactos

400 anos é o tempo estimado para a degradação do plástico na natureza
33 milhões de sacolas são distribuídas todos os dias no Brasil
68% do refrigerante produzido no País é embalado em garrafas PET
20 vezes mais plástico é usado hoje pela população mundial do que há 50 anos

OESP, 09/06/2010, Vida, p. A18

http://www.estadao.com.br/estadaodehoje/20100609/not_imp563626,0.php

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