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Índios xicrins invadem instalações da Vale do Rio Doce em Carajás

FSP, Dinheiro, p. B7
19 de Out de 2006

Índios xicrins invadem instalações da Vale do Rio Doce em Carajás
Eles reivindicam repasse maior da empresa, que diz que já paga R$ 9 mi ao ano

Renata Baptista
Da agência Folha

A produção e o carregamento de minério da ferro da CVRD (Companhia do Vale do Rio Doce) em Carajás (PA) foram interrompidos anteontem por uma invasão de índios na unidade. O impasse não havia sido resolvido até a noite de ontem.

Cerca de 200 índios da etnia xicrin, das aldeias Cateté e Djudjêkô (em Parauapebas e Água Azul do Norte), invadiram as instalações da empresa com arcos, flechas e bordunas.

Segundo a CVRD, no momento da invasão, 3.000 dos 15 mil funcionários da empresa estavam no local. Os índios tomaram as chaves dos ônibus que levariam 600 funcionários para casa e os mantiveram reféns por duas horas, diz a Vale.

Ainda de acordo com a CVRD, os índios danificaram equipamentos, furtaram objetos pessoais de trabalhadores e saquearam o restaurante.

Na manhã de ontem, mais de 5.000 empregados que iriam iniciar o turno de serviço foram impedidos de entrar na área industrial. As atividades operacionais estão suspensas. A produção diária de Carajás é de 250 mil toneladas de minério.

O advogado da Associação Indígena Bep-Noi de Defesa do Povo Xikrin do Cateté, Jorge Luís Ribeiro, disse que a invasão foi pacífica e que não houve reféns ou depredação.

Segundo Ribeiro, a principal reivindicação dos xicrins é o agendamento de uma audiência com a direção da CVRD para discussão do valor do repasse da empresa às aldeias.

"Há três anos que não há reajuste nos valores repassados e eles estão com dificuldades, pois aumentou o número de índios na região. Como a Vale do Rio Doce declarou, por meio de ofício, que não rediscutiria os valores neste ano, eles resolveram fazer esta manifestação."

A CVRD afirmou que contribui, anualmente, com cerca de R$ 9 milhões, conforme acordo fechado com a comunidade em junho. Ribeiro disse, no entanto, que este valor não corresponde à realidade. De acordo com a Bep-Noi, a CVRD repassa à associação R$ 353 mil mensais (R$ 4 milhões anuais).

"Esse dinheiro não é um favor. A Vale do Rio Doce paga aos índios direitos indenizatórios permanentes." Na nota, a CRVD afirma que a invasão poderá gerar o cancelamento do convênio. "A CVRD não compactua com tais métodos ilegais e não cederá a chantagens de qualquer espécie -reiteradamente usadas pela comunidade xicrin", diz a nota.

Ontem, a Justiça concedeu liminar ao pedido de reintegração de posse requerido pela CVRD e um oficial foi ao local comunicar aos índios que, se não saírem do local, terão que pagar multa de R$ 10 mil ao dia.
Colaborou SÍLVIA FREIRE, da Agência Folha

FSP, 19/10/2006, Dinheiro, p. B7

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