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Índios xavantes sofrem com epidemia de diabetes

OESP, Nacional, p. A12
16 de Fev de 2008

Índios xavantes sofrem com epidemia de diabetes
Taxa que era quase nula há dez anos, de acordo com Unifesp, saltou para até 70 casos por mil habitantes

Roberto Almeida

A população xavante em Mato Grosso corre risco elevado de epidemia de diabetes tipo 2. De acordo com um estudo produzido pela Universidade Federal de São Paulo (Unifesp), há mais de 30 portadores da doença para cada mil índios. Em algumas tribos, o número sobe para 70 casos por mil habitantes. Essa taxa era praticamente nula há 10 anos.

Os testes de glicemia foram feitos na Terra Indígena de Sangradouro, a 280 quilômetros de Cuiabá. Como conseqüência do diabetes tipo 2, índios são vítimas de enfarte e cegueira. O principal sintoma é o formigamento nos pés. "Já há amputados em razão da doença", afirma o endocrinologista João Paulo Botelho Vieira Filho, coordenador do estudo. "Se continuar, a epidemia será uma tragédia", adverte.

O levantamento foi feito com 1.684 índios, sendo que 382 têm 30 anos ou mais. Destes, há 57 casos comprovados da doença e 35 pacientes precisam de insulina diariamente. De acordo com Vieira Filho, falta medicamento: "Muitos índios, pouca verba do governo."

A raiz do problema, segundo o pesquisador, está na configuração genética dos xavantes. Durante milênios, a etnia foi dependente do armazenamento de energia no corpo, já que havia períodos de escassez alimentar. A dieta, baseada em feijão, inhame, abóbora, milho e batata-doce, era suficiente. Tanto que, nas primeiras visitas que fez à região, na década de 1980, Vieira Filho comprovou que os índios eram magros, não havia casos de obesidade, a dieta tradicional era cumprida e eles praticavam atividade física constante, especialmente na roça, fonte da cultura de subsistência. Porém, com a chegada de novos alimentos - especialmente açúcar e refrigerantes -, o número de obesos entre a população cresceu. "O açúcar tem efeito glicotóxico para o pâncreas dos índios. Eles param de produzir insulina mais rápido que os não-índios e têm fortes tendências para a obesidade", explica.

Por outro lado, a solução para a epidemia seria a reeducação alimentar, principalmente dos mais jovens. Porém, segundo o pesquisador, nunca houve esforços suficientes nesse sentido na região.

FUTURO

O professor xavante Oswaldo Turuwe, de 40 anos, trabalha há 25 anos na aldeia de Sangradouro com educação infantil. Dá aulas de filosofia, sociologia e língua portuguesa. Porém, os ensinamentos de Turuwe têm um foco à parte: a responsabilidade dos pais na alimentação dos pequenos. Quando saem os salários, eles vão às compras em mercados e precisam saber como escolher os mantimentos. "É de suma importância a aula de educação alimentar. Aqui, as crianças só comem comida da cidade", reclama.

Quando o problema atinge a família, como a do xavante Luciano Nomotse, de 40 anos, a preocupação com alimentos industrializados aumenta. O irmão mais velho de Nomotse, que tem cerca de 50 anos, é portador de diabetes. Mora em outra aldeia, que não recebe insulina. "Odeio a doença, que nunca foi vista aqui antes", diz Nomotse. "Evito comer alimento industrializado, cuido da alimentação de meus quatro filhos, faço regime e exercícios."

OESP, 16/02/2008, Nacional, p. A12

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