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Índios Xavantes são cadastrados no Bolsa Família

24HorasNews
27 de Abr de 2007

Começou nesta quinta-feira (26.04) o cadastramento de famílias indígenas do município de Campinápolis no programa Bolsa Família. A previsão é atender aproximadamente 1.200 famílias da etnia xavante, distribuídas em 88 aldeias, todas localizadas dentro do território indígena Parabubure. A ação é desenvolvida por meio de uma junção de esforços entre Governo Federal, Governo do Estado, UFMT, Funasa, Funai e Prefeitura de Campinápolis.

Neste primeiro dia de trabalho a equipe cadastrou as famílias da aldeia Santa Clara, distante cerca de 30 km da sede do município e uma das mais próximas da cidade. Foram entrevistadas todas as famílias da aldeia, que possui aproximadamente 250 pessoas.

A equipe contratada para realizar o trabalho de cadastramento é composta por 10 profissionais, sendo que a grande parte é do próprio município. A coordenação desta etapa está a cargo da Universidade Federal de Mato Grosso, por meio do departamento de Administração. O convênio foi firmado entre universidade e Governo do Estado de Mato Grosso, sob acompanhamento da Secretaria de Trabalho, Emprego, Cidadania e Assistência Social (Setecs).

Segundo a professora da UFMT, Cecília Arlene Moraes, coordenadora do cadastramento, estima-se que em 60 dias todas as 88 aldeias já terão sido percorridas para preenchimento do formulário do programa Bolsa Família. "Estamos lidando com uma cultura totalmente diferente, há casos de numa mesma casa indígena habitar mais de uma família e onde um único índio possuir mais de uma esposa. Tudo isso deve ser levado em consideração na hora do cadastramento, para que ninguém fique de fora", disse Cecília.

Além do aspecto cultural, outro fator que irá demandar tempo dos profissionais é o deslocamento até as aldeias, pois há algumas que estão quase 150 km de distância da sede do município e as estradas de acesso são quase todas intransitáveis.

Depois de finalizada a etapa do cadastramento, a equipe da prefeitura fará a inserção das informações no sistema do Cadastro Único do Governo Federal, que avalizará ou não os cadastros. Após a inclusão demora aproximadamente quatro meses para a emissão dos cartões, que é feita pela Caixa Econômica Federal e entregue pelos Correios às aldeias.

A iniciativa de cadastrar as famílias indígenas no programa Bolsa Família partiu da Prefeitura de Campinápolis, que pleiteou junto ao Ministério de Desenvolvimento Social e Combate à Fome a inclusão dos índios no programa.

O Bolsa Família é um benefício concedido às famílias pobres em situação emergencial, para retirá-las da situação de risco social e miserabilidade. Ele não foi instituído especificamente para atendimento às comunidades indígenas, porém em regiões do Brasil onde os índios estão em situação de vulnerabilidade social, como é o caso de Campinápolis, a ação justifica-se. Iniciativa semelhante foi implementada na cidade de Dourados, no Mato Grosso do Sul, onde também a situação dos indígenas exigia uma ação emergencial por parte dos governos.

De acordo com o prefeito de Campinápolis, Altino Vieira Rezende Filho, a iniciativa de cadastrar os índios no Bolsa Família é pioneira no Estado de Mato Grosso, pois nenhum outro município realizou trabalho semelhante de cadastramento em massa das famílias indígenas como o que está ocorrendo no município.

Um terço do território de Campinápolis é ocupado por aldeias, estima-se que a população indígena no município seja de aproximadamente 6 mil, quase 50% da população total da cidade que, de acordo com o último senso do IBGE, é de cerca de 13 mil pessoas . "Pode parecer uma ajuda pequena o valor pago pelo programa, que pode chegar no máximo a R$ 95 por família, mas será uma ajuda valiosa, pois eles poderão comprar material escolar, alimentos, medicamentos. E este dinheiro será comercializado nos estabelecimentos do próprio município, movimentando a economia local, gerando renda e melhorando a qualidade de vida dos índios".

Situação alarmante

Os recursos do Bolsa Família, além de movimentar a economia local de Campinápolis, irá também ajudar a combater um problema grave nas aldeias e que já ocasionou diversas mortes: a desnutrição. Somente na aldeia Santa Clara, das 67 crianças menores de cinco anos, 22 estão em situação de desnutrição e recebendo acompanhamento por parte de duas técnicas de enfermagem da Funasa, que estão morando na aldeia para realizar este trabalho. No começo do ano, quando elas chegaram, o número era de 36 crianças desnutridas, sendo que uma já tinha morrido. E no ano passado, outra criança também veio a falecer em decorrência da desnutrição.

O professor Vanderley Miranda confirma os números de óbitos por desnutrição e destaca que a ausência de água potável é um dos motivos para o agravamento da situação. Ele, que mora há cinco anos da aldeia Santa Clara e desenvolve um trabalho de alfabetização, destacou que há três anos a Funasa autorizou e liberou recursos para construção de um poço artesiano, porém a obra não foi concluída até hoje. "Por falta de água potável, há constantes epidemias dentro da aldeia e na época das chuvas a situação se agrava mais ainda com muitos casos de diarréias e outras doenças".

Vanderley integra a Operação Mato Grosso, um trabalho coordenado e mantido com recursos de missionários italianos. Ele afirmou ainda que a missão encaminha medicamentos, alimentos e construiu um postinho de saúde, utilizado pelos profissionais da Funasa.

Respeito à cultura

A questão cultural e o respeito às crenças e hábitos dos xavantes foram intensamente debatidos durante o período de preparação dos técnicos do cadastramento. A Funai designou o cacique Benjamim, que está atuando como se fosse um embaixador, para fazer o acompanhamento em todas as aldeias de Campinápolis. "Tomamos o cuidado de convidar uma liderança indígena local para que não fosse desrespeitado nenhum aspecto da cultura xavante, crenças, costumes. Os cadastradores foram instruídos sobre como devem se comportar dentro das aldeias, pois eles têm aspectos culturais diferentes dos nossos e isso deve ser respeitado para o bom andamento do trabalho", destacou a professora Cecília Moraes, da UFMT.

O cacique ajuda também com a tradução da língua xavante. Benjamim traduziu as palavras do ancião Armando, que falou em nome das famílias da aldeia Santa Clara, e disse que todos estavam muito contentes com a inclusão de todos no programa Bolsa Família. "Ninguém lembrava de nós, estamos muito contentes porque não está havendo discriminação e principalmente porque todos estão trabalhando com boa vontade, amor e amizade com os indígenas. O ancião pediu que continuem assim e disse que irá acompanhar todo o trabalho, e quer ver os irmãos xavantes melhorarem de vida. Armando fez um apelo para que os povos brancos respeitem as tradições e a cultura indígena, não infringindo as tradições e os costumes".

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