VOLTAR

Índios vivem entre o tradicional e o moderno

A Critíca - http://www.acritica.com/
Autor: Leandro Prazeres
23 de Mai de 2010

Dois movimentos sócio-culturais são visíveis na rede interétnica do Alto Rio Negro. O primeiro, mais recente, é o de revitalização da cultura indígena, que surgiu desde o final dos anos 80 e que é responsável por projetos como o centro de formação de pajés em Uapuí-Cachoeira. O segundo, mais antigo, mas ainda muito forte, é de abandono dos valores e costumes tradicionais. Ponto e contraponto de um drama mítico.

São Gabriel da Cachoeira é o município mais indígena do Brasil, com 90% de seus 41 mil habitantes (IBGE/2009) compostos por índios de 23 etnias que vivem em mais de 500 comunidades. Trata-se de uma das regiões mais remotas do Brasil, onde só se chega de barco ou de avião.

Êxodo
Nos últimos 20 anos, com a presença consolidada dos militares na região, a cidade vem recebendo crescentes levas de indígenas que deixam suas aldeias em busca de emprego e melhores condições de vida. É nessa troca de espaço físico que boa parte dos valores culturais tradicionais é deixada de lado.

"A percepção que temos é de que existe um movimento forte de revitalização cultural, mas, ao mesmo tempo, há um certo desinteresse da juventude pelos conhecimentos tradicionais. A vida na cidade e o desejo de estar conectado com novas formas de viver contribuem para esse desinteresse", diz o cientista social e doutor em antropologia Geraldo Andrello.

Mas não é apenas a vida na cidade "grande" que afasta os baniwas de seus antigos costumes. A cada dia, as aldeias da etnia recebem melhorias como geradores de energia elétrica, aparelhos de televisão e antenas parabólicas.

"Mandu", o pajé-professor de Uapuí-Cachoeira, percebe a falta de interesse dos jovens indígenas pela pajelança e, por mais poderoso que seja, admite: sente medo. "Eu tenho medo de morrer com esse conhecimento e não passar para ninguém. Não é qualquer um que aguenta ser pajé. É coisa muito difícil", afirma o xamã.

Nessa disputa entre o moderno e o tradicional, Geraldo Andrello não ousa dar palpites. "Nessa disputa, é difícil dizer quem vai ganhar. Só o tempo mostrará como a população vai se comportar diante desses estímulos", diz o pesquisador.

http://www.acritica.com/especiais/Resistencia_Silenciosa-xamas-indios-b…

As notícias aqui publicadas são pesquisadas diariamente em diferentes fontes e transcritas tal qual apresentadas em seu canal de origem. O Instituto Socioambiental não se responsabiliza pelas opiniões ou erros publicados nestes textos. Caso você encontre alguma inconsistência nas notícias, por favor, entre em contato diretamente com a fonte.