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Índios vivem de alimentos do lixão

Correio do Estado-Campo Grande-MS
Autor: Antonio Viegas
10 de Mai de 2002

A procuradora federal da Funai, Ana Maria de Carvalho, e o chefe da Funai local, Jonas Rosa, flagram algumas crianças e mulheres no aterro

Ontem pela manhã, em Dourados, famílias indígenas foram flagradas colhendo restos de comida no lixão e, entre as pessoas, adultos e crianças, inclusive um bebê cuja mãe estava amamentando no meio do lixo. A prefeitura vinha mantendo alguns índios como guardas na área, mas há dois meses eles foram demitidos. Essas famílias denunciaram que não recebem a cesta básica do Governo.

A procuradora federal da Funai, Ana Maria de Carvalho, o chefe da Funai local, Jonas Rosa, e a professora de direito Tatiana Ujacow também testemunharam o quadro de miséria. As famílias foram retiradas pelos representantes da Funai e levadas até suas residências, onde receberam três cestas adquiridas pela própria Funai.

O problema do lixão foi denunciado pelo Correio do Estado há mais de dois anos e depois da denúncia foi feito um convênio entre a prefeitura e as lideranças indígenas. Um grupo de índios foi contratado pelo município, recebendo um salário mínimo, com a responsabilidade específica de coibir a entrada de seus "patrícios" nesta área. Ocorre que, de acordo com informações repassadas para o próprio procurador do Ministério Publico Federal, ontem de manhã, esse grupo de guardas foi demitido há dois meses, ficando o lixão novamente aberto aos índios.

As pessoas, que já estavam com sacolas cheias de restos de comida, tentaram correr ao perceberem a presença da reportagem, mas foram barradas pelos representantes da Funai. Depois de serem alertadas sobre os riscos de contaminação, a procuradora Ana Maria disse que iria levá-las para receberem uma cesta básica. No entanto houve uma certa resistência, já que o interesse era por dinheiro e não pela cesta. Enquanto eram conduzidos para suas casas, os indígenas tentaram sair em fuga do interior do veículo, mas foram convencidos a voltar.

Uma das pessoas que estavam no lixão era uma garota com 12 anos de idade e que já carregava um filho de dois meses no colo. Ela declarou que não está cadastrada no Programa de Segurança Alimentar e por isso não recebe cesta básica. A menina contou também que nem sequer possui registro de nascimento. Uma senhora, que também estava com um bebê de colo, amamentando, disse que recebeu a cesta umas duas vezes e não está recebendo mais.

O Estado informou que distribui quase 1.800 cestas mensalmente nas aldeias Jaguapiru e Bororo, em Dourados. O flagrante de ontem serviu para a Funai pedir uma reavaliação do programa e verificar se os objetivos estão sendo realmente atingidos, ou seja, se as famílias beneficiadas são as que realmente merecem o benefício.

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