VOLTAR

Índios viram seguranças do tráfico em PE

Folha de S.Paulo-São Paulo-SP
Autor: KÁTIA BRASIL
06 de Abr de 2003

Armados por narcotraficantes do Polígono da Maconha, grupo da etnia truká leva violência às aldeias

Narcotraficantes do chamado Polígono da Maconha, em Pernambuco, armaram um grupo de índios da etnia truká, que por sua vez se tornou traficante de drogas, levando violência às aldeias localizadas na Ilha de Assunção, no município de Cabrobó (586 km de Recife).

Os índios traficantes são os responsáveis pela segurança das lavouras ilegais de maconha situadas em ilhotas de difícil acesso do arquipélago, banhado pelo rio São Francisco.
No grupo de índios traficantes, a Polícia Federal já identificou pelos menos dois líderes da organização criminosa.
Segundo o cacique truká Ailson dos Santos, nos últimos três anos, mais de seis índios contrários à ação do tráfico dentro da reserva -sendo dois no último dia 29- foram mortos em represálias.
Considerando não-índios, o número de mortes na região por causa do tráfico chega a cem, de acordo com o cacique.
Por falta de segurança, diz o líder indígena, crianças deixam de ir às escolas em períodos crise.
"O grupo de índios está fortemente armado com fuzis, pistolas. Eles têm até armas roubadas da Polícia Militar", afirma o cacique, que se diz ameaçado de morte (leia texto nesse página).

Fuga da cadeia
De acordo com o superintendente da Polícia Federal de Pernambuco, Wilson Damázio, o índio truká Carlos Jardiel é considerado traficante de alta periculosidade e está foragido da polícia.
"O Jardiel é um dos traficantes mais procurados na região", disse o superintendente da PF.
Em 2002, segundo a polícia, o índio foi preso com 86 kg de maconha, mas conseguiu fugir da cadeia pública de Cabrobó.
"Ele foi resgatado no segundo semestre da cadeia por um grupo de índios do grupo. Eles levaram algumas armas, até fuzis da PM. Recuperamos numa operação de desarmamento algumas armas, mas outras [ele não soube precisar quantas" ainda estão em poder deles], disse Damázio.

Buscas na reserva
Na última semana, a PF fez buscas na reserva atrás de pistas dos assassinos dos irmãos João Batista e Antônio Roberto Gomes Rodrigues -os dois índios trukás mortos no sábado retrasado.
João e Antônio foram mortos a tiros de fuzis e pistolas numa emboscada. Os autores do crime não foram localizados pela polícia.
Para o vice-presidente do Cimi (Conselho Indígena Missionário), Saulo Feitoza, que acompanha o povo truká desde os anos 80, a questão da violência do tráfico na reserva é complexa.
Os índios não estariam mais conseguindo identificar seus pares que têm conexão com o tráfico. Segundo ele, há conexão até com a organização criminosa Comando Vermelho, que age no Estado do Rio de Janeiro.
"O cacique [Ailson dos Santos" consegue identificar índios ligados ao tráfico. O problema são as forças invisíveis [os líderes do tráfico, que ficam em outros lugares". Quem está dentro da reserva é refém de um esquema maior, que tem conexão, inclusive, com o Comando Vermelho. Os índios são escravos da droga", afirmou Feitoza.

Posição da Funai
A Funai (Fundação Nacional do Índio, órgão responsável no governo federal por estabelece e executa a política indigenista no Brasil) anunciou que vai orientar o presidente Luiz Inácio Lula da Silva a introduzir uma política de segurança pública de combate ao narcotráfico nas aldeias.
O órgão diz ter constatado infiltrações do crime organizado, além da reserva truká, nas áreas atikum e pankararú, situadas também em Cabrobó.
"Temos que agir com rapidez, antes que a situação ganhe proporção semelhante à de periferias das grandes cidades, envolvendo um componente étnico. Não podemos deixar [os índios" à mercê desse tipo de infiltrações [do narcotráfico", que representa um perigo extremo", disse o presidente da Funai, Eduardo Almeida

As notícias aqui publicadas são pesquisadas diariamente em diferentes fontes e transcritas tal qual apresentadas em seu canal de origem. O Instituto Socioambiental não se responsabiliza pelas opiniões ou erros publicados nestes textos. Caso você encontre alguma inconsistência nas notícias, por favor, entre em contato diretamente com a fonte.