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Índios tentam eleger representantes

Diário de Cuiabá-Cuiabá-MT
Autor: Noelma de Oliveira
17 de Ago de 2002

Pela primeira vez em Mato Grosso indígenas partem organizados para disputar uma eleição estadual

Estevão Calos Taukane, da Federação dos Povos Indígenas de Mato Grosso: índios têm dificuldade até para percorrer aldeias em campanha

Pela primeira vez na história eleitoral de Mato Grosso, os povos indígenas do Estado estão organizados para eleger políticos que pertencem a etnias mato-grossenses.

Para garantir um espaço na política dos "brancos", a ideologia está pautada na questões indígenas, que devem estar mais fortes e acima das questões partidárias. "Estamos aprendendo a fazer política do branco", afirma o presidente da Federação dos Povos Indígenas de Mato Grosso, índio da etnia bakairi Estevão Calos Taukane.

Neste pleito, dois índios disputam cargos eletivos. O terena Lúcio Flores é candidato a deputado estadual pelo PT, e Amanuá Kamayurá concorre para deputado federal pelo PMDB. Da etnia Kamayurá, o peemedebista já é vereador no município de Gaúcha do Norte.

Dados do Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE) apontam que são 45 mil índios em Mato Grosso, abrangendo 38 etnias. Para Taukane, a organização dos povos, com relação a política feita pelo branco, está melhor se comparada há oito anos. "Não é o ideal", alerta. Segundo ele, instalar a Federação em Cuiabá já demonstra uma tentativa de se organizar.

"Pela primeira vez o movimento indígena organiza reuniões nas aldeias para apresentar os candidatos. Antes, as candidaturas eram próprias. Agora, os candidatos são dos povos indígenas", salienta Taukane. Os índios querem estar organizados não só nas aldeias como no meio do povo branco.

Não resta dúvida que o projeto é ousado pelo fato de que a população mato-grossense nunca ter escolhido um representante indígena para a Assembléia Legislativa, Câmara Federal ou Senado da República. A única exceção está na instância municipal, precisamente nas Câmaras de Vereador.

Apenas três índios são vereadores em todo o Estado. Além de Amanuá em Gaúcha do Norte, dois parlamentares de etnias indígenas estão com mandatos eletivos nos municípios de General Carneiro e Nova Xavantina, ambos Xavante.

Taukane diz desconhecer se já houve algum índio no Estado que chegou a ocupar um mandato de deputado. Exceto o cacique Xavante, Mário Juruna, que foi eleito deputado federal pelo PDT do Rio Janeiro. Juruna, que morreu há quase um mês, só foi eleito graças a estrutura dos "brancos", sobretudo pelo empenho pessoal de Leonel Brizola, candidato ao Senado pelo Rio de Janeiro atualmente.

Juruna, na época, no Rio de Janeiro, conforme Taukane, contou com o apoio de Brizola e coincidiu com a volta do líder pedetista do exílio, o que favoreceu a eleição do único deputado federal índio no Brasil em 502 anos de descobrimento e 113 de proclamação da República.

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