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Índios se rebelam contra igreja e apelam por nova gramática

Midianews-Cuiabá-MT
Autor: Nelson Francisco
06 de Fev de 2002

Parte da maior nação indígena de Mato Grosso quer romper o vínculo de décadas de evangelização com a missão salesiana e elaborar sua própria gramática. Os mais de mil índios xavante da Reserva Indígena Pimentel Barbosa, localizada entre Canarana e Ribeirão Cascalheira, não aceitam a imposição católica dos missionários no que se refere basicamente à escrita da língua xavante. Para tanto, vão editar a nova gramática, a qual será ensinada aos alunos que vivem numa área de 328.996 hectares.

Dispersos em comunidades, a mais população etnia no Estado - estima-se que o número de habitantes chegue a 11 mil - os xavante justificam a decisão: a língua falada é a mesma, mas na Reserva Pimentel Barbosa a escrita apresenta algumas diferenças. E são essas discrepâncias que eles pretender corrigir.

A assessoria de imprensa da Fundação Nacional do Índio (Funai) e a Associação Xavante de Pimentel Barbosa confirmaram que o projeto de edição da nova gramática será coordenado pelo antropólogo Ricardo Calaça, em parceria com as universidades de Brasília (UnB), Católica de Goiás (PUC) e de Mato Grosso (Unemat).

"Os Xavante de Pimentel Barbosa, mantém muitas tradições que outros indígenas da mesma etnia, porém habitantes de outras regiões, não preservaram", informou a assessoria de imprensa. "Agora, a Associação deseja registrar uma gramática para ser adotada nas escolas indígenas".

A atual gramática ensina aos alunos xavante foi publicada em julho de 1988. A norma escrita e falada da língua adotada pela nação é de autoria do padre salesiano Georg Lachnitt. Pesquisador da língua xavante, a obra do padre foi uma tentativa de se estabelecer um "diálogo mais íntimo com essa rica cultura e penetrar no mundo dos seus sinais a partir da magia da palavra, foi o que conseguiram pesquisadores como Pe. Bartolomeu Giaccaria e Adalberto Heide", descreveu o padre Angel Afolfo Sánchez y Sánchez.

Além da contribuição salesiana e alguns trabalhos de antropologia, os aspectos da língua xavante foram estudados pelo Summer Institute of Linguistics. Por meio do instituto, duas pesquisadores - Ruth Mcleod e Valerie Mitchell - resgataram o valor da língua xavante, um instrumento de resistência e da dominação cultural.

No entanto, apesar dos esforço dos mais velhos, nem todos os índios falam a língua xavante. Uma das justificativas é o convívio nas cidades e a dispersão da etnia. Atualmente, existem Água Boa, Canarana, Ribeirão Cascalheira, Gomes Carneiro, Poxoréo, Novo São Joaquim, Barra do Garças, Campinápolis, Paranatinga, São Félix do Araguaia, Nova Xavantina e Alto Boa Vista.

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