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Índios saem de porto da Aracruz ocupado por 3 dias

O Globo, O País, p. 14
14 de Dez de 2006

Índios saem de porto da Aracruz ocupado por 3 dias
Invasores aceitam acordo após enfrentar funcionários da empresa, com ajuda do MST. Terminal volta a operar hoje

Bruno Dalvi
Especial para O Globo

Cerca de 300 índios tupiniquins e guaranis que desde anteontem ocupavam o Portocel - maior porto exportador de celulose do mundo, na cidade de Aracruz - começaram a deixar a área no início da noite de ontem. O terminal portuário deve retomar hoje suas atividades normais.

Na tarde de ontem, os índios, acompanhados por integrantes do Movimento dos Trabalhadores Rurais Sem Terra (MST), entraram em confronto com cerca de 500 trabalhadores da Aracruz Celulose, que foram ao terminal tentar expulsar os invasores.

Os sem-terra foram retirados em seguida pela Polícia Militar. Os índios, que haviam prometido permanecer por tempo indeterminado, no fim da tarde aceitaram acordo com a direção da Aracruz Celulose para desocupar o porto.

Durante a ocupação, o cacique guarani Jaguaretá havia se mostrado irredutível:
- Não somos contra a população ou os trabalhadores, mas não vamos deixar o porto. Viemos determinados a lutar pelos nossos direitos e se formos agredidos vamos responder à altura. O que queremos é uma decisão final do governo .

Índios queriam garantias de demarcação de terra
Os indígenas, de sete aldeias, pleiteavam uma garantia do ministro da Justiça, Márcio Thomaz Bastos, de que as terras conquistadas por eles sejam demarcadas ainda este ano, conforme teria sido prometido pelo governo.

Como forma de pressionar o Ministério da Justiça, desde o ano passado índios apoiados por movimentos sociais têm organizado invasões de terras e de áreas fabris, incêndios florestais, interdição de estradas, roubo de madeira, entre outras ações.

Durante toda a tarde, o clima na área era tenso. O presidente do Sindicato dos Trabalhadores da Aracruz Celulose, Davi Gomes, disse que a preocupação era com um conflito ainda maior.

"O porto não pertence apenas à Aracruz Celulose"
"Os índios estão determinados a manter a ocupação.
Por isso, é urgente a intervenção das autoridades, no sentido de evitar a violência.
É urgente que o ministro da Justiça se pronuncie", afirmou em nota oficial.

As atividades portuárias ficaram paralisadas desde a invasão. A direção do terminal reclamou que a reivindicação dos índios deveria ter sido feita dentro dos parâmetros legais, e reprovou a ação.

- A invasão foi uma surpresa, já que o porto não pertence apenas à Aracruz Celulose. Tivemos de parar imediatamente os trabalhos, uma vez que precisamos manter a integridade física dos funcionários e dos invasores - disse o superintendente do Portocel, Gilberto Marques.

Paralisação custou R$ 45 milhões
Porto escoa 90% das exportações de celulose, indústria repudia ação

Nos três dias de operações suspensas em Portocel, o pais deixou de exportar US$ 21 milhões (cerca de R$ 45 milhões). As quatro empresas que atuam no porto de Aracruz - Aracruz Celulose, Suzano, Cenibra e Stora Enzo - movimentam pelo terminal 90% das exportações nacionais de celulose, 4,5 milhões de toneladas anuais, o equivalente a US$ 3,2 bilhões (R$ 6,8 bilhões) na balança comercial brasileira..

Um navio que embarcaria para Bélgica e Holanda com 27 mil toneladas de celulose está atracado para ser carregado e duas barcaças com celulose aguardam para descarregar.

Por meio da assessoria de imprensa, antes de acertar o acordo de desocupação, a Aracruz Celulose afamou, em nota, que atos como esse, que prejudicam os negócios no país e debilitam a imagem do Brasil no exterior, vêm-se repetindo para forçar o governo a aceitar a demanda pela ampliação da reserva indígena do estado.

Na segunda-feira à noite, o presidente Luiz Inácio Lula da Silva falou sobre a questão:
- Não adianta eu querer trazer para cá uma fábrica de papel e celulose, porque a legislação diz: `Tal terra é dos índios, estamos na terra dos índios'. Aí, no dia seguinte, tem mais terra para mais índios, no dia seguinte, tem mais terra de quilombola... Ou estabelecemos um marco jurídico para resolver isso ou ninguém acredita que as coisas podem dar certo neste país.

A Confederação Nacional Indústria repudiou, em nota oficial, o "ato de vandalismo irresponsável protagonizado por grupos políticos" contra porto. A Federação das Indústrias do Estado de São Paulo (Fiesp) também criticou invasão e pediu solução rápida governo.

O Globo, 14/12/2006, O País, p. 14

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